Israel anunciou nesta quinta-feira (1º) que suas forças mataram Mohammed Deif, comandante militar do Hamas em Gaza, em um ataque aéreo realizado em 13 de julho em al-Mawasi, perto de Khan Younis, no sul do enclave. A ofensiva, que atingiu tendas que abrigavam palestinos deslocados e uma usina de destilação de água, resultou na morte de pelo menos 90 pessoas e feriu outras 300. No entanto, um importante membro do grupo militante palestino afirmou que um dos arquitetos do ataque de 7 de outubro, que deu início ao conflito com o Estado judeu, ainda está vivo. As informações são da agência Al Jazeera.
“Mohammed Deif está bem e supervisionando diretamente” as operações do Hamas, disse um oficial do Hamas à agência AFP. No entanto, Israel afirma ter provas de sua morte, e Deif está no topo da lista dos mais procurados.
A alegação de que Deif foi morto surgiu um dia após o assassinato de Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, na capital iraniana, Teerã. Israel, embora apontado como responsável também por esta morte, não assumiu oficialmente a autoria do bombardeio que vitimou o rosto mais conhecido do grupo.

Um oficial do Hamas publicou no Telegram que apenas a ala militar do grupo, as Brigadas Al Qassam, pode confirmar ou desmentir a morte de Deif, segundo a rede CNN. Izzat Al Rishq afirmou que, até que a liderança do Al Qassam faça um anúncio, “nenhuma informação divulgada pela mídia ou por outras partes pode ser confirmada”.
Mohammed Deif foi o líder da ala militar do Hamas, um grupo palestino que atua tanto politicamente quanto militarmente. Tido como uma figura tanto importante quanto polêmica no conflito israelense-palestino, ele comandou as Brigadas Al-Qassam, o braço armado do Hamas, posição que o colocou como alvo de várias tentativas de assassinato por Israel.
Enquanto as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) o tinham como um inimigo poderoso, sendo um dos cérebros por trás do derramamento de sangue que entrou para a história como o “11 de Setembro israelense“, para seus apoiadores, Deif era visto um herói da resistência palestina, uma liderança que personificava a luta contra a ocupação no enclave.
Israel afirma ter matado ou capturado metade dos comandantes do Hamas e mais de 14 mil combatentes desde o início da guerra. No entanto, há sinais claros de que o grupo está ressurgindo em áreas da faixa que foram anteriormente limpas pelas forças israelenses, que devastaram grandes partes da região durante o processo.
O líder raramente se comunicava ou aparecia em público. Assim, quando o canal de TV do Hamas anunciou que ele faria um discurso em 7 de outubro, os palestinos em Gaza entenderam que algo importante estava acontecendo.
Na gravação, Deif afirmou que o Hamas havia repetidamente alertado Israel para cessar seus crimes contra os palestinos, liberar prisioneiros e parar com a expropriação de terras palestinas. E declarou: “hoje é o dia para demonstrar a Israel que seu tempo acabou”.
Batizado de “Tempestade Al-Aqsa”, o ataque que surpreendeu Israel foi uma represália às ações anteriores de Israel na Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, ocorridas em 2021.
Além disso, o Hamas citou o agravamento do tratamento mais amplo dispensado aos palestinos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental e alegou abusos por parte das forças de segurança israelenses através de ataques agressivos nas principais cidades da Cisjordânia e pelo que descreveram como ações violentas e destrutivas dos colonos israelenses, muitas vezes com a cumplicidade dos soldados.
Cérebro
Nascido em 1965, no Campo de Refugiados Khan Yunis, criado após a Guerra Árabe-Israelense de 1948 no sul da Faixa de Gaza, Deif ingressou nas fileiras do Hamas em seus primeiros anos de juventude, época em que também foi acadêmico na Universidade Islâmica de Gaza, onde estudou física, química e biologia.
Em maio de 2021, logo após um ataque à Mesquita de Al-Aqsa, o terceiro local mais sagrado do Islã, que causou grande indignação no mundo árabe e muçulmano, Deif começou a planejar a operação que resultou na morte de 1,2 mil pessoas em Israel e deixou mais de 2,7 mil feridas.
Desde então, o paradeiro de Mohammed Deif era desconhecido, embora se acreditasse que ele estivesse em Gaza, possivelmente escondido nos complexos túneis sob o enclave.
Segundo fontes palestinas, uma das residências atingidas nos ataques aéreos israelenses em Gaza era propriedade do pai de Deif. O irmão do militante e dois outros membros da família teriam perdido a vida como resultado desses bombardeios. Sobre sua vida pessoal, também sabe-se que ele sofreu a perda de sua esposa, de seu filho de sete meses e de sua filha de três anos em um ataque aéreo israelense em 2014.