Quem é Mohammed Deif, o homem que liderou o Hamas no ataque a Israel

Comandante do grupo é um dos mais procurados por Israel e apontado como o cérebro por trás do '11 de Setembro' israelense

Nas entranhas da Faixa de Gaza, um implacável e obscuro líder há muito assombra os corredores do poder no conflito israelo-palestino. Mohammed Deif é amplamente considerado o comandante do Hamas, apontado como o encarregado de planejar e executar operações militares e atentados suicidas contra Israel, o que faz dele um alvo constante das forças israelenses.

Nascido em 1965, no Campo de Refugiados Khan Yunis, criado após a Guerra Árabe-Israelense de 1948 no sul da Faixa de Gaza, Deif ingressou nas fileiras do Hamas em seus primeiros anos de juventude, época em que também foi acadêmico na Universidade Islâmica de Gaza, onde estudou física, química e biologia.

Desde então, vem dedicando sua vida a uma causa que em 2023 o colocou no centro de um conflito de décadas. E para chegar no topo da hierarquia, desempenhou um papel crucial no desenvolvimento das capacidades militares, com destaque para fabricação de bombas, bem como das redes de túneis do grupo terrorista.

À caça de Deif: ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, encontrou-se com tropas na fronteira de Gaza (Foto: WikiCommons)

Enquanto as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) o veem como um inimigo poderoso, sendo um dos cérebros por trás dos ataques de foguetes contra Tel Aviv no sábado (7), derramamento de sangue que entrou para a história como o “11 de Setembro israelense“, para seus apoiadores, Deif é um herói da resistência palestina, uma liderança que personifica a luta contra a ocupação no enclave.

Deif é notoriamente discreto e evita exposição – ele raramente é visto em público ou faz declarações, o que aumenta sua aura de mistério. Exemplo disso é que há somente três fotografias conhecidas do comandante do grupo radical: uma quando ele estava na casa dos 20 anos, uma segunda em que ele está mascarado e uma terceira que mostra apenas a sua sombra.

Não à toa o militante, que ostenta a pecha de “o homem” mais procurado de Israel”, tem sobrevivido a diversas tentativas de assassinato por parte das IDF, em tentativas que incluem ataques aéreos. Ele somente anda pelas sombras.

Conforme relatado pela agência Reuters, o ataque que surpreendeu Israel no último fim de semana foi uma represália às ações anteriores de Israel na Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, ocorridas há pouco mais de dois anos, citando uma mensagem de áudio de Deif divulgada no sábado passado, quando ele também deu nome à ofensiva: “Tempestade Al-Aqsa”.

Em maio de 2021, logo após um ataque ao terceiro local mais sagrado do Islã, que causou grande indignação no mundo árabe e muçulmano, Deif começou a planejar a operação que resultou na morte de 1,2 mil pessoas em Israel e deixou mais de 2,7 mil feridas, conforme relata uma fonte próxima ao Hamas.

“Esse planejamento foi desencadeado pelas imagens chocantes de Israel invadindo a Mesquita de Al-Aqsa durante o Ramadã, agredindo fiéis, arrastando idosos e jovens para fora da mesquita”, explicou a fonte em Gaza. “Tudo isso alimentou e inflamou a ira.”

O ataque à Mesquita de Al-Aqsa, que há muito tempo é um ponto crítico em questões de soberania e religião em Jerusalém, desempenhou um papel crucial no desencadeamento de 11 dias de conflitos entre Israel e o Hamas naquele ano.

O paradeiro de Mohammed Deif permanece desconhecido, embora se acredite que ele esteja em Gaza, possivelmente nos intrincados túneis sob o enclave.

Segundo fontes palestinas, uma das residências atingidas nos ataques aéreos israelenses em Gaza era propriedade do pai de Deif. O irmão do militante e dois outros membros da família teriam perdido a vida como resultado desses bombardeios. Sobre sua vida pessoal, também sabe-se que ele sofreu a perda de sua esposa, de seu filho de sete meses e de sua filha de três anos em um ataque aéreo israelense em 2014.

Arquiteto do terror

Segundo a Reuters, uma fonte próxima ao Hamas revelou que a decisão de preparar o ataque foi tomada em colaboração por Deif, que lidera as Brigadas Al Qassam do Hamas, e Yehya Sinwar, o líder do Hamas em Gaza. No entanto, a fonte destacou que Deif foi quem arquitetou a operação.

A fonte descreveu essa colaboração como envolvendo “dois cérebros”, mas deixou claro que Deif foi o mentor principal. A operação foi mantida em sigilo, conhecida apenas por um seleto grupo de líderes do Hamas.

O nível de sigilo era tão alto que o Irã, inimigo declarado de Israel e um importante apoiador em termos de financiamento, treinamento e armamento para o Hamas, tinha apenas informações gerais sobre a preparação de uma grande operação pelo movimento. Segundo relato de altos membros dos grupos radicais feito ao Wall Street Journal (WSJ), funcionários da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês) do Irã, a elite das forças armadas do país, trabalharam em colaboração com o Hamas desde agosto para planejar uma ofensiva abrangente contra Tel Aviv, envolvendo terra, ar e mar. Os EUA não confirmam.

Na mesma gravação que veio a público no dia do ataque, Deif afirmou que o Hamas pediu à comunidade internacional que detivesse os “crimes da ocupação”, mas Israel intensificou suas provocações. Ele também mencionou que o Hamas havia solicitado a Israel um acordo humanitário para a libertação de prisioneiros palestinos, mas essa solicitação foi rejeitada.

“Diante da contínua ação da ocupação, sua desconsideração pelas leis e resoluções internacionais, juntamente com o apoio dos Estados Unidos e do Ocidente, além do silêncio internacional, tomamos a decisão de encerrar isso”, declarou.

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