Restrições aos direitos das mulheres vão piorar a catástrofe econômica no Afeganistão, diz ONU

País está entre as menores rendas per capita do mundo, com cerca de 85% da população estimada vivendo abaixo da linha da pobreza

As restrições draconianas à capacidade das mulheres de estudar e trabalhar contribuíram para a situação socioeconômica calamitosa no Afeganistão, com consequências devastadoras para a população, segundo um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) divulgado na terça-feira (18).

O Panorama Socioeconômico do Afeganistão 2023, divulgado pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), fornece uma visão geral das consequências resultantes da tomada do poder no Afeganistão por seus atuais governantes de fato, o Taleban, em agosto de 2021.

Imediatamente depois que o Taleban assumiu o poder, a economia afegã entrou em colapso, acelerando a queda do país para a pobreza. Com uma população estimada pela ONU em cerca de 40 milhões e PIB (produto interno bruto) de US$ 14,3 bilhões em 202, o Afeganistão está entre os países com a menor renda per capita do mundo, com cerca de 85% da população estimada vivendo abaixo da linha da pobreza.

Embora o relatório aponte para alguns sinais encorajadores, como aumento das exportações, aumento esperado de 8% na receita fiscal interna, estabilização da taxa de câmbio e redução da inflação, ele explica que isso se deve em grande parte ao grande esforço internacional de ajuda enviado ao Afeganistão em 2022.

Afegãs em centro de distribuição de comida de Herat, no Afeganistão (Foto: Sayed Bidel/Unicef)

Isso não aponta para uma recuperação duradoura: a renda per capita deve cair neste ano e em 2024. A modelagem do PNUD sugere que, se a ajuda cair 30%, a inflação pode chegar a 10% em 2024 e a renda média pode cair 40%.

Qualquer redução na ajuda internacional vai piorar as perspectivas econômicas do Afeganistão, e a pobreza extrema se perpetuará por décadas. O apelo de ajuda da ONU de US$ 4,6 bilhões para assistência internacional em 2023 é, portanto, o mínimo necessário para ajudar os afegãos necessitados.

Ausência da mulher no mercado de trabalho

Surayo Buzurukova, vice-representante residente do PNUD no Afeganistão, disse que a decisão do Taleban de restringir fortemente a capacidade das mulheres de estudar e trabalhar é uma razão importante para os problemas econômicos do país.

“Fizemos simulações para ver como a remoção das mulheres da força de trabalho afetará a economia daqui para frente”, disse Buzurukova. “Calculamos que não será possível alcançar o crescimento e reduzir a pobreza sem as mulheres. Essa é a mensagem que tentamos transmitir quando falamos com as autoridades de fato”.

Buzurukova continua esperançosa de que a situação acabará por se tornar menos opressiva para as mulheres, particularmente nas províncias, onde o apoio das trabalhadoras humanitárias é muito procurado.

“Depois de agosto de 2021, foi difícil trabalhar aqui e demorou para conseguir me envolver com o Taleban e garantir que eles me ouvissem. Mas agora criei uma rede de confiança com altos membros das autoridades de fato, tanto a nível provincial como nacional. É muito importante que eles entendam a importância das mulheres para a economia”, disse ela.

A vice-representante acrescentou. “Continuamos a prestar serviços em todo o país, através das nossas ONGs parceiras, e temos isenções para o setor da saúde e educação, onde as mulheres podem continuar a trabalhar. Mas, claro, a proibição é um desafio, e o moral do pessoal é afetado”.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News

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