Rússia forneceu dados aos Houthis para orientar ataques a navios no Mar Vermelho

Três fontes ouvidas pelo The Wall Street Journal confirmam que Moscou deu apoio efetivo aos rebeldes em suas operações

Dados de satélite fornecidos pela Rússia ajudaram os rebeldes Houthis, do Iêmen, a direcionar seu ataques contra navios comerciais no Mar Vermelho. A informação foi confirmada ao The Wall Street Journal por três fontes cujas identidades foram mantidas sob sigilo.

Uma pessoa familiarizada com os acontecimentos disse que as informações obtidas pelos satélites russos foram enviadas ao Irã, que por sua vez as entregou a seus aliados Houthis.

Os rebeldes iemenitas passaram a atacar navios no Mar Vermelho, no Golfo de Áden e no Estreito de Bab al-Mandeb após os ataques do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023. Eles argumentam desde então que têm o objetivo de comprometer o fluxo de mercadorias rumo ao território israelense e assim mostrar apoio aos palestinos em Gaza.

Navio nas atualmente perigosas águas do Mar Vermelho (Foto: WikiCommons)

Com o tempo, porém, mesmo navios sem relação com o Estado judeu passaram a ser atacados pelos drones e mísseis da organização, que é classificada como terrorista pelos EUA.

Segundo especialistas, o arsenal dos Houthis inclui mísseis balísticos com alcance de até 1,9 mil quilômetros e drones iranianos Shahed-136, capazes de percorrer até dois mil quilômetros. Os próprios rebeldes exaltam seu arsenal e alegam que chegaram a usar inclusive um míssil hipersônico, artefato que nem as Forças Armadas norte-americanas têm à disposição.

A ofensiva levou a uma ação retaliatória dos EUA e do Reino Unido, que formaram uma coalizão naval para assegurar a navegação livre e evitar um choque econômico ainda maior. Washington chegou a usar seus bombardeiros furtivos B-2, que raramente entram em ação, para atacar uma série de alvos subterrâneos dos Houthis na semana passada, o que expõe o tamanho da preocupação com o grupo.

As rotas visadas pelos Houthis recebem cerca de 15% do comércio internacional, e os ataques forçaram muitas companhias a mudar o trajeto de suas embarcações, encarecendo o frete mundial. Há, entretanto, exceções aceitas pelos Houthis para seus ataques.

O grupo iemenita se absteve de atacar navios de China e Rússia, aliados de Teerã, desde que não tenham conexões com Israel. Em troca, as duas nações prometeram apoio político aos insurgentes, possivelmente incluindo o bloqueio de resoluções da ONU (Organização das Nações Unidas) no Conselho de Segurança.

Ainda assim, o navio MV Huang Pu, de propriedade chinesa e bandeira panamenha, foi alvo de mísseis disparados em março deste ano. Na ocasião, o Comando Central (Centcom, na sigla em inglês) das Forças Armadas dos EUA afirmou que quatro mísseis foram inicialmente disparados em direção ao petroleiro, mas não o atingiram. Já um quinto disparo causou danos mínimos e um pequeno incêndio a bordo.

Inclusive um navio que carregava milho brasileiro rumo ao Irã, país que apoia os Houthis, foi alvo em fevereiro. O MV Star Iris foi atacado por dois mísseis, que causaram pequenos danos ao navio, sem registro de pessoas feridas.

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