Rússia modifica ‘drone kamikaze’ iraniano para realizar ataques no inverno

Aeronaves, que já vêm sendo usadas na guerra na Ucrânia, tiveram de passar por adaptações para resistir às baixas temperaturas

Após ter transtornos com os chamados “drones kamikaze” fornecidos pelo Irã, que congelaram devido às baixas temperaturas que antecedem o inverno europeu, o exército russo teria encontrado uma forma de resolver os problemas de mau funcionamento das armas. As informações são da revista Newsweek

Feitas de plástico e outros materiais não resistentes ao clima rigoroso, as aeronaves não tripuladas modelo Shahed-136, usadas em diversas ofensivas aéreas, não poderiam ser usadas pelas forças russas no período mais frio do ano, disse o exército da Ucrânia no começo desta semana.

Porém, na quarta-feira (7), o porta-voz do Comando da Força Aérea Ucraniana disse que os inimigos haviam dado um jeito de contornar a situação para recolocar os drones no front. Segundo Yuriy Ihnat, as forças russas estão trabalhando para sanar essas complicações no equipamento e já retomaram o uso após um intervalo de 20 dias.

“Mesmo no frio, esses drones voam, então também é necessário se preparar para isso”, disse ele. 

Drone iraniano modelo Shahed 149 Gaza (Foto: Wikimedia Commons)

Prova disso é que drones kamikaze foram usados por Moscou em ataques nas regiões de Dnipropetrovsk, Kiev, Poltava, Zhytomyr e Zaporizhzhya na terça-feira (6), disseram fontes ucranianas e russas.

A explicação, segundo disse na quarta (7) a organização norte-americana Institute for the Study of War (ISW, do inglês ‘Instituto para o Estudo da Guerra’), é que as forças russas “provavelmente modificaram os drones para operar em condições climáticas mais frias. Com isso, a utilização das aeronaves na Ucrânia provavelmente aumentará nas próximas semanas”, tendo como alvo a infraestrutura crítica.

Autoridades norte-americanas alegam que, de novembro para cá, as forças armadas russas receberam centenas de UAVs (veículos aéreos não tripulados, da sigla em inglês) de Teerã. Moscou teria usado cerca de 400 deles contra as tropas de Kiev e também contra a infraestrutura essencial ucraniana, sendo que a destruição causada pelo armamento privou a população local de energia elétrica, água e gás.

Além disso, os governos do Irã e da Rússia firmaram um acordo para que Moscou passe a produzir, com base em projetos iranianos, seus próprios drones de ataque.

Kiev também tem obtido sucesso com seus ataques a drones. Os “misteriosos” ataques contra bases aéreas dentro do território da Rússia nesta semana servem como exemplo. Segundo Moscou, os ucranianos usaram aeronaves da era soviética para atacar a base aérea Engels-2, cerca de 800 quilômetros a sudeste da capital, bem como um aeródromo perto da cidade de Ryazan, que fica a 200 quilômetros a sudeste de Moscou.

A Ucrânia não assumiu a responsabilidade pelos ataques.

Por que isso importa?

Nos últimos meses, têm se acumulado evidências de que “drones suicidas” iranianos vêm sendo usados por Moscou para atacar não apenas as tropas de Kiev, mas também a infraestrutura essencial ucraniana. O resultado é um país sem energia elétrica, água potável nas torneiras e gás para manter seus cidadãos aquecidos durante o inverno que se aproxima.

Hossein Amirabdollahian, ministro das Relações Exteriores iraniano, comentou recentemente a denúncia de que seu país fornece inclusive mísseis balísticos a Moscou. “Os comentários sobre a parte dos mísseis estão completamente errados, e a parte dos drones está correta. Demos um número limitado de drones à Rússia meses antes da guerra na Ucrânia”, disse ele, segundo a agência Al Jazeera.

No fim de outubro, o governo dos EUA disse ter evidências de que o Irã enviou também especialistas para orientar as tropas russas sobre o funcionamento dos drones. John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, declarou que um “número relativamente pequeno” de instrutores da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês) está na Ucrânia.

Amirabdollahian não comentou a última denúncia, mas deu a entender que seu governo se opõe ao uso dos drones no conflito atual. “Enfatizamos às autoridades ucranianas que, se houver evidências sobre o uso de drones iranianos na guerra da Ucrânia pela Rússia, eles devem nos apresentar”, afirmou. “Se nos for provado que a Rússia usou drones iranianos na guerra da Ucrânia, não ficaremos indiferentes”.

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