Taleban amplia repressão de gênero e proíbe mulheres em academias e parques

Radicais dizem que as regras de segregação são desrespeitadas e por isso ampliou a lista de locais proibidos para as afegãs

O Taleban, que governa o Afeganistão desde a retirada das tropas estrangeiras do país, em agosto de 2021, ampliou a repressão de gênero nos últimos dias com novos vetos impostos às mulheres. Elas passaram a ser proibidas de frequentar academias de ginástica, parques públicos e parques de diversão, segundo relatos de agências internacionais.

Mohammed Akef Mohajer, porta-voz do Ministério da Virtude e do Vício, o órgão que fiscaliza a radical aplicação da lei islâmica no Afeganistão, afirmou que o veto a mulheres em academias ocorreu porque as ordens de segregação de gênero não vinham sendo respeitadas. Ele ainda citou o não uso do hijab, o véu islâmico obrigatório, por muitas das frequentadoras, de acordo com a Associated Press (AP).

Segundo Mohajer, o grupo radical atualmente no poder “deu o seu melhor” ao longo dos 15 meses de governo, com seguidos alertas para que a segregação fosse respeitada tanto nas academias quanto nos parques. “Mas, infelizmente, as ordens não foram obedecidas, as regras foram violadas. E tivemos que fechar parques e academias para mulheres”, disse ele.

Mulher afegã vestida com a burca caminha pelo trânsito no centro de Cabul (Foto: Jason Brisebois/Flickr)

Nos parques afegãos, começaram a surgir relatos de mulheres impedidas de entrar, mesmo que estejam acompanhando crianças, segundo a Reuters. Anteriormente, os talibãs haviam determinado que certos dias nos parques públicos seriam exclusivos para mulheres. Agora, com o veto, não está claro se a antiga regra segue válida.

Em Cabul, uma mulher relatou que foi impedida de entrar em um parque de diversões com o neto. “Essas crianças não viram nada de bom. Elas devem brincar e se divertir”, disse a mulher, que por questões de segurança se identificou apenas pelo primeiro nome, Massoma. “Eu pedi muito, mas não nos permitiram entrar no parque e agora estamos voltando para casa”.

País marginalizado

As novas regras se somam a uma série de outras que, além de impedir o acesso das mulheres a quase tudo que a sociedade afegã oferece, pesam sobre a já devastada economia local.

As mulheres que tinham cargos no governo afegão antes da ascensão talibã seguem impedidas de trabalhar, e a cúpula do governo que prometia ser inclusiva é formada somente por homens. A perda do salário por parte de muitas mulheres que sustentavam suas casas contribui para o empobrecimento da população afegã.

Na educação, o governo extremista mantém fora da escola milhões de meninas acima da sexta série, sob o argumento de que as escolas só serão reabertas quando os radicais tiverem a certeza de um “ambiente seguro”. Ou seja, segregado.

Algumas escolas chegaram a reabrir nesse período, mas foram obrigadas a fechar novamente e levaram a protestos de estudantes e professores. Em outubro deste ano, surgiram relatos de que membros do Taleban entraram em muitos estabelecimentos de ensino para fiscalizar se havia mulheres presentes e assim expulsá-las.

O Ministério do Ensino Superior do Taleban chegou a afirmar que as mulheres representaram 35% dos 150 mil estudantes que prestaram vestibular entre 13 e 15 de outubro. Entretanto, na mesma época, os radicais anunciaram que cursos como jornalismo, medicina, engenharia, economia e ciências sociais são proibidos para as afegãs

A repressão de gênero é um das principais razões citadas por nações de todo o mundo para que o Taleban não seja reconhecido como governo de direito do Afeganistão. Assim, o país segue isolado da comunidade internacional e afundado na pobreza, sem perspectiva imediata de gerar riqueza.

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