Taleban suspende canais de TV afegãos acusados de ‘negligenciar os valores islâmicos’

Trabalho jornalístico tem sido seriamente afetado pela repressão desde a tomada do poder pelos radicais em 2021

Sob a justificativa de supostas violações de regulamentos oficiais e “valores islâmicos”, o Taleban cortou a transmissão de dois canais de TV privados locais. A ação, realizada na quarta-feira (17), gerou críticas de defensores da liberdade de imprensa, que a consideraram uma violação das leis de governança da mídia do país. As informações são da rede Voice of America (VOA).

A Comissão de Violações de Mídia do Ministério da Informação, sob controle talibã, anunciou que um tribunal irá avaliar as atividades dos canais Noor TV e Barya TV, determinando seu destino.

Hafizullah Barakzai, porta-voz da comissão, declarou que as emissoras estão proibidas de operar até segunda ordem. Ele criticou os canais por não aderirem aos “princípios jornalísticos” e por não respeitarem os “valores nacionais e islâmicos” em sua cobertura, apesar dos alertas e recomendações anteriores do governo.

Jornalistas em Cabul, no Afeganistão (Foto: Unama/Fardin Waezi)

Barakzai apontou que a Noor TV estava transmitindo música e que suas apresentadoras e convidadas não estavam aderindo ao código de vestimenta oficial, o hijab, que exige que as mulheres cubram o rosto, deixando apenas os olhos visíveis. Quanto à suspensão da Barya TV, Barakzai mencionou um discurso controverso, mas não forneceu detalhes adicionais.

Em uma declaração, o Centro de Jornalistas do Afeganistão (AFJC), um órgão independente de monitoramento da mídia, criticou as suspensões como uma violação da lei de mídia pública do país, destacando que era mais um passo rumo à repressão da mídia livre no país do Oriente Médio sob o governo talibã.

O AFJC exigiu que as autoridades afegãs revogassem imediatamente a ordem e reabrissem os dois meios de comunicação de forma incondicional. Até o momento, os dois canais não se pronunciaram sobre as alegações ou a suspensão de suas operações.

Em seu relatório anual de 2023, o centro documentou 168 violações dos direitos dos jornalistas, incluindo uma morte e 61 detenções. Embora menor que os 260 incidentes registrados em 2022, o centro observou que oito meios de comunicação foram proibidos em 2023, cinco temporariamente e três permanentemente.

Após a ascensão do Taleban ao poder em 2021, muitos jornalistas perderam seus empregos, com várias mídias fechando por falta de recursos ou devido à fuga de seu pessoal do país. Mulheres jornalistas enfrentam desafios adicionais devido às proibições de trabalho e restrições de viagem. Até o momento, as duas emissoras afetadas não se manifestaram sobre a suspensão.

A Noor TV, fundada em 2007, conta com o apoio de Salahuddin Rabbani, ex-ministro das Relações Exteriores do país e líder do partido Jamiat-e-Islami. Já a Barya TV, fundada em 2019, é de propriedade de Gulbuddin Hekmatyar, ex-primeiro-ministro e líder do partido Hizb-e-Islami, que permanece em Cabul.

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