Taleban traz de volta segregação de gênero em cargos públicos e transportes

No Afeganistão, até serviços de saúde devem ser negados a pacientes do sexo feminino que não estiverem usando o hijab

A repressão de gênero, uma forte característica opressora dos talibãs durante o primeiro regime, nos anos 1990, marca a atual retomada de poder pelos radicais no Afeganistão e atinge praticamente todos os setores da sociedade. Entre as medidas, homens e mulheres estão impedidos de ocupar os mesmos espaços em locais públicos. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

Desde que destituíram o governo afegão, em agosto de 2021, em meio à retirada das tropas dos EUA e aliados, os insurgentes islâmicos revivem suas velhas políticas discriminatórias, impondo a segregação estrita nas universidades, escritórios do governo e no transporte público.

No início de março, o Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício enviou uma carta ao Ministério da Saúde ordenando que funcionários masculinos e femininos estavam terminantemente proibidos de ocupar o mesmo ambiente. “Os escritórios para homens e mulheres devem ser separados”, diz o documento, que teve uma cópia obtida pela reportagem da RFE.

Meninas têm aula no ensino fundamental em escola improvisada na província de Nangarhar, Afeganistão, em abril de 2019 (Foto: Unicef/Marko Kokic)

O órgão governamental, que é o cão de guarda da interpretação radical pelo Taleban da lei islâmica, também determinou que os serviços de saúde devem ser negados a pacientes do sexo feminino que não estiverem usando o hijab islâmico – o véu que faz parte do conjunto de vestimentas recomendado pela doutrina islâmica. A barreira de acesso ao atendimento médico causou impactos, já que as pacientes são atendidas apenas por um profissional de saúde do mesmo sexo.

O radicalismo preocupa grupos de direitos humanos, que acusam a organização extremista de impor um “apartheid de gênero” no Afeganistão. Na visão de ativistas, meninas e mulheres estão sendo gradualmente apagadas da vida pública.

Entre as imposições dos talibãs às mulheres que voltaram a vigorar no país do Oriente Médio estão a proibição de saírem de casa desacompanhadas, o veto à educação em escolas e ao trabalho e inúmeros casos de mulheres solteiras ou viúvas forçadas a se casar com combatentes.

A violência tem sido uma resposta a manifestações de gênero que vêm ocorrendo no país desde que um novo pacote linha-dura entrou em vigor, que proíbe as mulheres de viajarem longas distâncias sem que estejam acompanhadas por um homem da família.

O Taleban inicialmente havia ordenado que as mulheres não voltassem ao trabalho. Porém, mudou de ideia e acabou chamando as profissionais de saúde de volta às clínicas e hospitais. Muitas delas relataram medo de retomar as atividades profissionais.

Colapso na educação

Em setembro, o Taleban determinou a segregação de gênero em universidades e faculdades privadas do país. O Ministério da Educação talibã emitiu decreto estabelecendo que as classes deveriam ser separadas por gênero – ou pelo menos divididas por uma cortina. Entre as determinações, a de que as estudantes só poderiam ser ensinadas por outras mulheres. Um exceção foi aberta: “homens idosos” de bom caráter poderiam preencher os cargos na ausência de educadoras disponíveis.

A escassez de corpo docente e instalações adequadas para o sexo feminino dificultou ainda mais o acesso das mulheres ao ensino superior. Em alguns casos, as alunas foram informadas de que alguns cursos não estarão mais disponíveis para elas.

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