Taxas de desnutrição no Afeganistão atingem recorde, segundo a ONU

As taxas de desnutrição no Afeganistão estão em níveis recordes, com metade do país sofrendo fome severa ao longo do ano, disse um porta-voz do Programa Mundial de Alimentos

Metade da população do Afeganistão está sofrendo de fome severa, e as taxas de desnutrição atingiram níveis históricos, segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA). A crise alimentar ocorre em meio à deterioração da situação econômica, amplificada pelas sanções ocidentais. As informações são da agência Associated Press.

“Há sete milhões de crianças (com menos de cinco anos) e mães desnutridas, em um país com uma população de 40 milhões”, disse na quinta-feira (26) Phillipe Kropf, porta-voz da agência de alimentos da ONU (Organização das Nações Unidas) em Cabul.

Desde a tomada de poder pelo movimento fundamentalista Taleban, em agosto de 2021, o povo afegão foi jogado à pobreza e hoje enfrenta uma batalha contra a insegurança alimentar. Com as sanções aplicada pelo Ocidente aos governantes, houve suspensão de transferências bancárias, e bilhões de dólares foram congelados.

O futuro não é algo que possa ser encarado com otimismo pelos afegãos (Foto: Pixnio/Divulgação)

Quando o governo afegão se dissolveu em agosto – com altos funcionários fugindo do país, incluindo seu presidente e o governador interino de seu banco central – deixou para trás pouco mais de US$ 7 bilhões em ativos do banco central depositados no Federal Reserve Bank. Como não estava mais claro quem tinha autoridade legal para obter acesso a essa conta, o Fed tornou os fundos indisponíveis para saque.

“Os afegãos não estão morrendo de fome. Mas não têm mais recursos para evitar a crise humanitária”, disse Kropf.

Para piorar, o inverno no Afeganistão é rigoroso, e as temperaturas baixas têm impedido o acesso a várias regiões nesses meses de frio extremo, dificultando a chegada de assistência humanitária a várias famílias. Para agravar o cenário, o Taleban proibiu as mulheres do país de trabalhar para ONGs. 

“A proibição veio no pior momento possível”, afirmou o funcionário do PMA. “Famílias e comunidades não sabem de onde virá sua próxima refeição”.

A agência de alimentos disse que pelo menos 3,9 milhões de crianças no país já enfrentam desnutrição aguda, e nove em cada dez afegãos não comem o suficiente.

“Não há nem água suficiente para beber em nossa área. Os poços secaram. Não há comida e ninguém está empregado”, disse ao PMA uma avó, Guldana, que chefia uma família de dez pessoas em Cabul.

Estima-se que aproximadamente dois terços da população, ou 28,3 milhões de pessoas, precisem de assistência humanitária em 2023, quase quatro milhões a mais que no ano passado, de acordo com o PMA.

A enfermeira Anisa Samadi, que trabalha em uma clínica de nutrição em Cabul, disse que a maioria das crianças e mães afegãs morrerá sem o apoio de agências como o PMA e a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os número de pacientes atendidos teve um salto.

“Nos últimos cinco meses, vi o número de pacientes aumentar. Três meses atrás tínhamos 48 pacientes. No mês passado, tivemos 76, e até agora temos 69 ou 70, principalmente gêmeos que são muito fracos, enquanto suas mães também são fracas”, disse ela. 

O porta-voz da ONU Stephane Dujarric pediu na quinta-feira (26) ao secretário-geral António Guterres que reaja às crescentes taxas de desnutrição no Afeganistão.

“É mais um sinal da rápida deterioração da situação humanitária no Afeganistão que estamos vendo em meio a condições de inverno particularmente duras”, disse ele.

O PMA precisa de US$ 220 milhões por mês para fornecer assistência alimentar e nutricional aos afegãos. Já a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) precisa de US$ 11,4 milhões para continuar ajudando os agricultores. 

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