Todo mundo está com fome em Gaza agora, segundo humanitários da ONU

Pular refeições é a norma e cada dia é uma busca desesperada por sustento”, de acordo com o Programa Mundial de Alimentos

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

Os humanitários da ONU (Organização das Nações Unidas) repetiram as terríveis preocupações com os civis atingidos pela guerra em Gaza nesta terça-feira (2), em meio a relatos de contínuos bombardeios israelenses às cidades do sul de Deir al Balah, Khan Younis e Rafah, confrontos diretos no terreno e o disparo de foguetes durante a noite por grupos armados palestinos contra Israel.

Os últimos alertas da agência de ajuda humanitária da ONU para os palestinos (UNRWA) e do Programa Alimentar Mundial da ONU (PMA) destacaram a ameaça de fome e doenças em áreas densamente urbanizadas, onde dezenas de milhares de pessoas fugiram de intensas campanhas de bombardeio no norte e no centro do enclave.

“Todos em Gaza estão com fome! Pular refeições é a norma e cada dia é uma busca desesperada por sustento”, disse o PMA em uma postagem no X, antigo Twitter, na terça-feira (2). “Muitas vezes as pessoas passam o dia e a noite inteira sem comer. Os adultos passam fome para que as crianças possam comer.”

Bem mais de um milhão de pessoas procuram agora segurança na já superlotada cidade de Rafah, no sul do país, segundo a UNRWA, com centenas de milhares dormindo ao ar livre com roupas ou materiais inadequados para se protegerem do frio.

As crianças subnutridas correm um risco particular, enquanto “metade da população de Gaza passa fome”, alertaram os humanitários da ONU, em linha com as últimas avaliações de insegurança alimentar.

As infecções estão se espalhando

Fazendo eco destas preocupações, a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou para um “risco iminente” de surtos de doenças transmissíveis.

Desde meados de outubro foram registrados 179 mil casos de infecção respiratória aguda, 136,4 mil casos de diarreia entre menores de cinco anos, 55,4 mil casos de sarna e piolhos e 4,6 mil casos de icterícia, informou a agência da ONU.

Menino tira água da cisterna em vilarejo em Gaza (Foto: WikiCommons)

Desde os ataques terroristas liderados pelo Hamas no sul de Israel, em 7 de outubro, que deixaram cerca de 1,2 mil mortos e outros 240 feitos reféns, os confrontos na Faixa de Gaza e os ataques aéreos, terrestres e marítimos por parte das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) tirara a vida de mais de 22 mil pessoas, principalmente mulheres e crianças, segundo autoridades de saúde locais.

Por sua vez, os números das IDF de 30 de dezembro indicavam que 168 soldados israelenses foram mortos desde o início da operação terrestre em Gaza e 955 ficaram feridos.

O Ministério da Saúde de Gaza também afirmou que mais de 200 palestinos foram mortos somente desde segunda-feira (1º), com 338 feridos.

Mais milhares de presumivelmente mortos

Outras sete mil pessoas também foram dadas como desaparecidas ou soterradas sob os escombros, informou a OMS em sua última atualização de emergência.

O relatório também refere que 600 pessoas foram mortas em quase 300 ataques a centros de saúde desde 7 de outubro, que danificaram 26 hospitais e 38 ambulâncias.

Gaza tem 1,93 milhão de deslocados, sendo cerca de 52 mil mulheres grávidas que dão à luz por volta de 180 bebês todos os dias, de acordo com a OMS. Também há 1,1 mil pacientes que necessitam de diálise renal, 71 mil com diabetes e 225 mil que necessitam de tratamento para hipertensão.

Serviços de saúde revivendo

O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) também observou que as autoridades de saúde de Gaza conseguiram retomar alguns serviços hospitalares no norte de Gaza.

Estes incluíram o Hospital Al Ahli Arab, o hospital de caridade Amigos dos Pacientes, o hospital Al Helou International, o hospital Al Awda e vários outros centros de cuidados primários.

“Isso ocorreu em meio a grandes riscos que cercam o movimento e o trabalho das equipes médicas devido ao bombardeio contínuo de bairros residenciais e nas proximidades de instalações de saúde”, disse o Ocha. “Além disso, o Ministério da Saúde de Gaza, a UNRWA e a OMS estão coordenando um plano para a reativação dos centros de saúde para satisfazer as necessidades das pessoas deslocadas em todos os locais de deslocamento.”

Crise da Cisjordânia

Num desenvolvimento relacionado, o Ocha relatou o primeiro caso de demolição de propriedade palestina na Cisjordânia em 2024, em al-Maniya, em Belém.

Cerca de 300 palestinianos, incluindo 79 crianças, foram mortos na Cisjordânia ocupada desde 7 de outubro, no contexto de ataques crescentes por parte das IDF e dos colonos, que foram confirmados e condenados pelo chefe dos direitos humanos da ONU, Volker Türk.

Antes dos ataques de 7 de outubro liderados pelo Hamas, 200 palestinos já tinham sido mortos na Cisjordânia no ano passado, número mais elevado num período de dez meses desde que a ONU começou a manter registos em 2005.

De acordo com um relatório do Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) abrangendo o período de 7 de outubro a 20 de novembro, o período assistiu a um “aumento acentuado de ataques aéreos, bem como de incursões de veículos blindados de transporte de pessoal e de escavadoras enviadas para campos de refugiados e outras áreas densamente povoadas na Cisjordânia, resultando em mortes, feridos e danos extensos a objetos e infraestruturas civis.”

No ano passado, as autoridades israelenses supervisionaram a demolição de 1.119 estruturas, um recorde desde o início da coleta de dados em 2009, tirando de suas casas 2.210 pessoas, segundo o Ocha, na sua primeira atualização de 2024.

“A ameaça de destruição de casas e fontes de subsistência contribui para a geração de um ambiente coercivo que pressiona as pessoas a abandonarem as suas áreas de residência”, afirmou a ala humanitária no seu website.

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