Por telefone, Biden e Putin buscam solução diplomática para tensões com a Ucrânia

A conversa foi um pedido de Putin, e serviu como prévia das negociações com os EUA de janeiro para aliviar a turbulência com entre Moscou e Kiev

O presidente dos EUA, Joe Biden, esteve em conversa por telefone nesta quinta-feira (30) com o líder russo Vladimir Putin. O objetivo de Biden é encontrar uma solução diplomática para a vertiginosa tensão na fronteira da Rússia com a Ucrânia, informou a rede Voice of America (VOA).

“Estamos preparados para a diplomacia e para um caminho diplomático adiante”, declarou um alto funcionário da Casa Branca à imprensa. “Mas também estamos preparados para responder se a Rússia avançar com uma nova invasão da Ucrânia”.

A conversa foi uma solicitação de Putin e serviu como uma prévia das negociações com os Estados Unidos em 10 de janeiro, em Genebra, para, entre outros pontos, tentar justamente reduzir as tensões com os vizinhos do sul.

Vladimir Putin e Joe Biden na cúpula de Genebra, em junho de 2021 (Foto: Wikimedia Commons)

Esta é a segunda conversa por telefone entre os chefes de Estado somente em dezembro. Na anterior, ocorrida no início do mês, a pauta foi a presença de cerca de 70 mil soldados destacados no lado russo da fronteira, conforme estimou a inteligência dos EUA com base em imagens de satélite. Analistas de Washington preveem que Putin planeja reunir um contingente de até 175 mil combatentes.

EUA do lado ucraniano

Os Estados Unidos já declararam apoio à Ucrânia e inclusive depositaram dezenas de milhões de dólares para o investimento em segurança do país europeu. Na quarta-feira (29), o secretário de Estado Antony Blinken falou com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.

“Reitero o apoio inabalável dos Estados Unidos à independência, soberania e integridade territorial da Ucrânia em face do aumento militar da Rússia nas fronteiras da Ucrânia”, disse a autoridade norte-americana.

Washington já manifestou que haverá “consequências significativas” se a Rússia de fato avançar na incursão ao país vizinho, o que inclui duras sanções econômicas e maior apoio à segurança para a Ucrânia.

Por outro lado, alguns analistas duvidam que Putin realmente irá proceder com uma invasão. Entre eles está o professor Taras Kuzio, da Universidade Nacional de Kiev. Para ele, uma incursão seria cara, longa e sangrenta, o que torna a ação política e militar improvável.

“Se Putin tentar esmagar a Ucrânia com força militar avassaladora, ele pode acabar perdendo o país para sempre, ao mesmo tempo em que desencadeia inquietação antigovernamental dentro da Rússia com o potencial de ameaçar a sobrevivência de todo o seu regime”, escreveu ele . “Para um homem que já viveu o colapso de um império, esse pode ser um risco que ele não está preparado para correr.”

Por que isso importa?

tensão entre Ucrânia e Rússia explodiu com a anexação da Crimeia por Moscou. Tudo começou no final de 2013, quando o então presidente da Ucrânia, o pró-Kremlin Viktor Yanukovych, se recusou a assinar um acordo que estreitaria as relações do país com a UE. A decisão levou a protestos em massa que culminaram com a fuga de Yanukovych para Moscou em fevereiro de 2014.

Após a fuga do presidente, grupos pró-Moscou aproveitaram o vazio no governo nacional para assumir o comando da península da Crimeia e declarar sua independência. Então, em março de 2014, as autoridades locais realizaram um referendo sobre a “reunificação” da região com a Rússia. A aprovação foi superior a 90%.

Com base no referendo, considerado ilegal pela ONU (Organização das Nações Unidas), a Crimeia passou a se considerar território russo. Entre outras medidas, adotou o rublo russo como moeda e mudou o código dos telefones para o número usado na Rússia.

Paralelamente à questão da Crimeia, Moscou também apoia os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014. O conflito armado, que já matou mais de dez mil pessoas, opõe ao governo ucraniano as forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e contam com suporte militar russo.

Em 2021, as tensões escalaram na fronteira entre os dois países. Washington tem monitorado o crescimento do exército russo na região fronteiriça e compartilhou informações de inteligência com seus aliados. Os dados apontam um aumento de tropas e artilharia russas que permitiriam um avanço rápido e em grande escala, bastando para isso a aprovação de Putin e a adoção das medidas logísticas necessárias.

Especialistas calculam que a Rússia tenha entre 70 mil e 100 mil soldados nas proximidades da Ucrânia, sendo necessária uma força de 175 mil para invadir, além de mais combustível e munição. Conforme o cenário descrito pela inteligência dos EUA, as tropas russas invadiriam o país vizinho pela Crimeia e por Belarus.

Um eventual conflito, porém, não seria tão fácil para Moscou como os anteriores. Isso porque, desde 2014, o Ocidente ajudou a Ucrânia a fortalecer suas forças armadas, com fornecimento de armamento, tecnologia e treinamento. Assim, embora Putin negue qualquer intenção de lançar uma ofensiva, suas tropas enfrentariam um exército ucraniano muito mais capaz de resistir.

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