EUA alertam que China estaria criando maior banco de dados biológico do mundo

Empresas americanas privadas estão particularmente sob risco de infiltração chinesa

Oficiais de inteligência dos Estados Unidos advertiram na sexta-feira (22) que a China estaria coletando dados genéticos em todo planeta para criar o que pode vir a ser o maior banco de dados biológico do mundo. As informações são do jornal The New York Times.

O Centro Nacional de Contra-Inteligência e Segurança (NCSC, da sigla em inglês) relatou em um artigo que, diante da iminente situação, os EUA deveriam aperfeiçoar a proteção de tecnologias críticas, incluindo inteligência artificial, computação quântica, semicondutores e outras tecnologias relacionadas à bioeconomia.

“A China e outros países estão tentando dominar essas tecnologias e estão usando meios legais e ilegais para adquirir know-how americano”, disse Michael Orlando, diretor interino do NCSC.

Empresas americanas privadas estão particularmente sob risco de infiltração chinesa (Foto: University of Michigan DNA Lab/Flickr) 

Segundo o site australiano News.com.au, empresas chinesas estariam oferecendo testes genéticos e kits de teste de Covid-19, bem como investindo em empresas farmacêuticas dos EUA, com o risco de os dados serem usados por Beijing.

“A biotecnologia pode ser mal utilizada para criar patógenos virulentos que podem atingir nosso suprimento de alimentos ou mesmo a população humana. A tecnologia genômica usada para projetar terapias de doenças sob medida para um indivíduo também pode ser usada para identificar vulnerabilidades genéticas em uma população”, aponta o relatório.

A China crê que o domínio dessas áreas irá resultar em vantagens econômicas, já que a inteligência artificial promete impactar o mundo, inclusive operações militares. A computação quântica permitirá que os países quebrem a criptografia mais difícil que existe hoje, e os semicondutores são vitais não apenas para computadores, mas para muitos produtos de consumo.

Agora, as autoridades também enfatizam o encontro da tecnologia com a pesquisa genética e biológica como uma área de competição e espionagem. Edward You, oficial de contraespionagem para tecnologias emergentes e disruptivas, disse que o governo chinês está coletando dados médicos, de saúde e genéticos em todo o mundo. Para ele, a nação que construir o melhor banco de dados de informações estará na vanguarda do desenvolvimento de curas para futuras pandemias, vantagem que a China já tem.

De acordo com o NCSC, Beijing ainda possui histórico de uso indevido de dados genéticos, como a utilização de testes genéticos para rastrear membros dos uigures, minoria muçulmana que vive no país.

Maior banco do mundo

You também abordou o caso da empresa chinesa BGI, responsável pelo desenvolvimento de um teste genético neonatal com os militares chineses que permitiu a coleta de informações de milhões de pessoas em todo o mundo. A empresa ganhou espaço nos Estados Unidos em 2013, quando comprou uma empresa americana de genômica.

Hoje, a BGI tem contratos e parcerias com instituições de saúde nos Estados Unidos e fornece sequenciamento genômico barato e obtém acesso aos dados genômicos.

O NCSC também mencionou investimentos da chinesa WuXi Biologics, que comprou uma fábrica da Pfizer na China, anunciou uma unidade de produção em Massachusetts e fez um investimento em 2015 na 23andMe, empresa de genética de consumo.

Em meio à busca chinesa por uma ampla gama de dados comerciais, a maior ameaça é para as indústrias de alta tecnologia que Beijing tem a ambição de dominar num futuro não distante.

Autoridades americanas e europeias acusam de longa data a China por roubo de propriedade intelectual, de produzir versões mais baratas de produtos, escantear os concorrentes ocidentais e assim dominar o mercado. A reportagem do New York Times lembra que foi assim que China fez com painéis solares, por exemplo.

Nos últimos anos, o FBI e o centro de contra-espionagem fizeram alertas frequentes às empresas e universidades sobre as tentativas chinesas de adquirir ilegalmente tecnologia americana. Algumas dessas aberturas foram recebidas com ceticismo, principalmente em universidades que acreditam que o governo dos Estados Unidos pode estar tentando limitar o número de estudantes chineses em universidades do país.

“Eles estão desenvolvendo o maior banco de dados biológico do mundo”, decretou You. “Depois que eles têm acesso aos seus dados genéticos, não é algo que você pode alterar, como um código PIN”.

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