África se estabelece como epicentro global do terrorismo, de acordo com especialistas

Cerca da metade das mortes registradas no ano passado ocorreu na região subsaariana do continente africano

Especialistas em contraterrorismo disseram na semana que passou que a África se firmou como epicentro global do terrorismo. De acordo a análise, cerca da metade das mortes registradas no ano passado ocorreu na região subsaariana do continente africano. Apesar disso, grupos como a Al-Qaeda e afiliados do Estado Islâmico (EI) ainda têm presença ampla, duradoura e ativa em diferentes regiões do globo. As informações são da agência Associated Press.

Durante um painel de discussão organizado pela ONU (Organização das Nações Unidas), a Interpol, agência internacional de polícia, também compartilhou informações alarmantes. Segundo a entidade, o terrorismo associado à ideologia de extrema direita aumentou cerca de 50 vezes na última década, especialmente na Europa, na América do Norte e em certas partes da região da Ásia-Pacífico.

Especialistas identificam outras tendências significativas: o aumento da insegurança global está tornando a ameaça terrorista “mais complexa e descentralizada”. Os extremistas estão cada vez mais utilizando tecnologia avançada, enquanto drones e inteligência artificial abriram novas possibilidades para o planejamento e execução de ataques.

Combatentes do Estado Islâmico na fronteira entre Mali e Níger (Foto: WikiCommons)

Durante a terceira conferência de alto nível de chefes de agências antiterroristas das Nações Unidas, os especialistas da Interpol e de países como Rússia, Estados Unidos, Catar, bem como o gerente sênior de inteligência estratégica do Google, discutiram as atuais e emergentes tendências e ameaças terroristas.

O objetivo principal do encontro é fortalecer a cooperação internacional contra o terrorismo. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, ressaltou a importância de unir esforços para prevenir o terrorismo, abordando questões como pobreza, discriminação, infraestrutura precária e violações dos direitos humanos como causas do problema.

O problema da África

Na sessão de terça-feira (20) foi destacado o aumento do terrorismo na África. O secretário-geral adjunto da ONU, Khaled Khiari, mencionou que a região se tornou o principal campo de batalhas global, com o fortalecimento de grupos como Al-Qaeda e devido a fraturas políticas, econômicas e sociais, fronteiras porosas e mobilização baseada na identidade.

Khiari também enfatizou as consequências do fluxo de armas e combatentes estrangeiros da Líbia rumo a países como Burkina Faso, Chade e Sudão.

Após a queda do ditador Moammar Gaddafi em 2011, a Líbia, um país rico em petróleo, mergulhou no caos. Muitos combatentes estrangeiros do EI, após a derrota do autodenominado califado no Iraque em 2017, fugiram para essa nação do norte da África.

Durante a reunião, o coronel-general Igor Sirotkin, vice-diretor do Serviço Federal de Segurança da Rússia e chefe do Comitê Nacional Antiterrorista, destacou que a África Ocidental, especialmente as áreas do Sahel e do Magreb, está se tornando o epicentro da ameaça terrorista islâmica. Há uma expansão da influência dos grupos terroristas armados e existe o perigo de o EI ressurgir como um califado africano.

O enviado especial do Catar para o combate ao terrorismo, Mutiaq Al-Qahtani, enfatizou que metade das vítimas de atos terroristas no ano passado estava na África subsaariana e pediu que os esforços de combate ao terrorismo se concentrem no continente.

Leniência e radicalismo

Justin Hustwitt, coordenador de especialistas que monitoram as sanções da ONU contra os maiores grupos extremistas, alertou que a situação na África Ocidental está piorando conforme o EI busca se posicionar como um ator político. O grupo se aproveita da falta de operações antiterroristas na região, especialmente na tríplice fronteira de Burkina Faso, Mali e Níger, e há preocupações sobre sua expansão para a RD Congo.

Gregory Hinds, diretor de contraterrorismo da Interpol, afirmou que a Al-Qaeda e grupos ligados ao EI continuam a inspirar e realizar ataques em várias partes do mundo, incluindo Iraque, Síria, Afeganistão, América do Norte, Europa, África e Ásia, com um ritmo alarmante. Ele também mencionou um aumento significativo de 50 vezes no terrorismo relacionado à ideologia de extrema direita, que é influenciado por eventos globais e pela agenda global.

O secretário-geral Guterres destacou que os movimentos neonazistas e de supremacia branca estão se tornando as principais ameaças à segurança interna em vários países.

Khiari, por sua vez, observou uma deterioração significativa na segurança global nos últimos anos, com aumento no número de conflitos após duas décadas de declínio consistente. Ele ressaltou que as guerras civis locais têm maior probabilidade de se internacionalizar, e as partes envolvidas estão se fragmentando cada vez mais. Esses conflitos exacerbam as tensões e instabilidades regionais, criando ambiente propício para a proliferação de grupos armados não estatais, incluindo organizações terroristas.

Ódio nas redes

Tobias Peyeri, gerente sênior de inteligência estratégica do Google e ex-membro do Escritório de Contraterrorismo da ONU, afirmou que o Google proíbe conteúdo produzido por organizações terroristas e está comprometido em combater o ódio e o extremismo que levam à violência terrorista.

No entanto, ele observou que atores mal-intencionados, como grupos extremistas, estão se tornando mais hábeis em evitar a detecção, usando comunicações codificadas, narrativas complexas e teorias da conspiração, inclusive em jogos de computador populares.

Para enfrentar esses desafios, o Google utiliza expertise em mercados locais, tecnologias avançadas de correspondência visual baseadas em inteligência artificial (IA), detecção especializada e outras medidas.

Peyeri enfatizou que a IA já está sendo aplicada com sucesso em diversas áreas, desde doenças até mudanças climáticas, mas ressaltou a importância de desenvolver e implantar tais sistemas de forma responsável, a fim de evitar problemas sociais como desinformação, discriminação e uso indevido por atores mal-intencionados, incluindo terroristas.

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