África tem 190 milhões de crianças em risco de crises relacionadas à água, diz Unicef

África Ocidental e África Central estão entre as regiões com maior insegurança hídrica e mais impactadas pelo clima do mundo

Uma nova análise do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) mostra que cerca de 190 milhões de crianças em dez países africanos correm o maior risco de uma convergência de três ameaças ligadas à água: água, saneamento e higiene (WASH, na sigla em inglês) inadequados, doenças relacionadas e perigos climáticos.

O estudo, divulgado nesta segunda-feira (20), antes da histórica Conferência da Água da ONU (Organização das Nações Unidas), analisou o acesso doméstico aos serviços WASH, o peso das mortes atribuíveis a eles entre crianças menores de cinco anos e a exposição a riscos climáticos e ambientais, revelando onde aa ameaça é maior para os menores, e o investimento em soluções, mais necessário.

“A África está enfrentando uma catástrofe hídrica. Enquanto os choques climáticos e relacionados à água estão aumentando globalmente, em nenhum outro lugar do mundo os riscos aumentam tão severamente para as crianças”, disse o diretor de programas do Unicef, Sanjay Wijesekera.

Tempestades devastadoras, inundações e secas históricas já estão destruindo instalações e casas, contaminando os recursos hídricos, criando crises de fome e espalhando doenças. Mas, por mais desafiadoras que sejam as condições atuais, sem uma ação urgente, o futuro pode ser muito mais sombrio”, completou.

Mulher caminha 14 quilômetros diários por água em Madagascar (Foto: Unicef/Safidy Andrianantenain)
Crises agravadas por conflitos armados

A tripla ameaça foi considerada mais aguda em Benin, Burkina Faso, Camarões, Chade, Costa do Marfim, Guiné, Mali, Níger, Nigéria e Somália, colocando a África Ocidental e a África Central entre as regiões com maior insegurança hídrica e mais impactadas pelo clima no mundo. Muitos dos países mais afetados, particularmente no Sahel, também enfrentam instabilidade e conflitos armados, agravando ainda mais o acesso das crianças à água potável e ao saneamento.

Nos dez hotspots, quase um terço das crianças não tem acesso a pelo menos água básica em casa e dois terços não têm serviços básicos de saneamento. Um quarto das crianças não tem escolha a não ser praticar a defecação a céu aberto. A higiene das mãos também é limitada, com três quartos das crianças incapazes de lavar as mãos por falta de água e sabão em casa.

Como resultado, esses países também carregam o fardo mais pesado de mortes infantis por doenças causadas por WASH inadequado, como doenças diarreicas. Por exemplo, seis dos dez países enfrentaram surtos de cólera no ano passado. Globalmente, mais de mil menores de cinco anos morrem todos os dias de doenças relacionadas a WASH, com cerca de duas em cada cinco concentradas apenas nesses países.

Vulnerável a ameaças climáticas

Esses hotspots também estão entre os 25% dos 163 países do mundo com maior risco de exposição a ameaças climáticas e ambientais. Temperaturas mais altas, que aceleram a replicação do patógeno, estão aumentando uma vez e meia mais rápido do que a média global em partes da África Ocidental e Central.

Os níveis das águas subterrâneas também estão caindo, exigindo que algumas comunidades cavem poços com o dobro da profundidade de apenas uma década atrás. Ao mesmo tempo, as chuvas tornaram-se mais erráticas e intensas, levando a inundações que contaminam os escassos recursos hídricos.

Todos os dez países também são classificados pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) como frágeis ou extremamente frágeis, com o estresse do conflito armado em alguns países ameaçando reverter o progresso em direção à água potável e ao saneamento.

Por exemplo, Burkina Faso tem visto uma escalada de ataques a instalações de água como uma tática para deslocar as comunidades. Cinquenta e oito pontos de água foram atacados em 2022 e mais de 830 mil pessoas, mais da metade crianças, perderam o acesso à água potável no ano passado.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News

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