Ataque das Forças Armadas da Somália mata 21 civis no sul do país africano

Testemunhas desmentem a informação divulgada pelo governo, segundo o qual somente jihadistas foram atingidos na operação

Um ataque aéreo realizado pelas Forças Armadas da Somália no sul do país, na segunda-feira (18), deixou ao menos 40 pessoas mortas, sendo 21 civis. O governo alega que realizava uma operação de combate ao terrorismo, segundo informações do site local Garowe.

Na versão de Mogadíscio, todas as pessoas mortas na operação eram ligadas ao Al-Shabaab, grupo extremista associado à Al-Qaeda que representa o maior desafio de segurança da Somália. Entretanto, pessoas que presenciaram a ofensiva afirmam que 21 civis foram atingidos e mortos.

O bombardeio atingiu dois vilarejos, Baldooska e Baghdad, que ficam cerca de 30 quilômetros ao norte da capital nacional. A operação teria sido conduzida emergencialmente, após fontes de inteligência receberem a informação de que militantes do Al-Shabaab estavam se reunindo na área.

Apesar de desmentir a morte de civis, o governo diz que abriu uma investigação para apurar o impacto da ofensiva, de acordo com Abdirahman Yusuf Adala, vice-ministro da Informação.

As Forças Armadas dos EUA, que habitualmente realizam ataques aéreos em parceria com os militares somalis, negaram qualquer envolvimento. A Turquia, igualmente parceira da Somália no setor de segurança, não se manifestou.

O Al-Shabaab vinha agindo pouco até a semana passada, quando realizou um ataque ao Hotel Syl, em Mogadíscio. Após o período de calmara, o grupo prometeu intensificar suas ações durante o Ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos, que já começou.

Forças da Somália em operação contra o Al-Shabaab, outubro de 2012 (Foto: Wikimedia Commons)
Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana (UA). Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques contra órgãos e oficiais do governo e entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Civis são frequentemente vitimados pelos atentados. Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram em 2022 na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de civis atingidos pelas tropas do governo, por milícias armadas aliadas às Forças Armadas e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto de 2022, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você.”

Mais tarde, em agosto de 2023, o chefe de Estado afirmou que o objetivo é derrotar completamente os extremistas em 2024. “Se não os eliminarmos completamente, talvez haja alguns bolsões com alguns Al-Shabaabs inofensivos que não poderão causar problemas”, disse ele.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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