O grupo Emergency Lawyers, que monitora abusos cometidos por ambos os lados na guerra civil do Sudão, acusou as Forças Armadas Sudanesas (SAF, na sigla em inglês) de matar centenas de pessoas em um bombardeio aéreo no mercado de Tur’rah, localizado na região oeste de Darfur. O ataque, descrito pelo grupo como um “massacre horrível”, também teria deixado centenas de feridos. As informações são da rede BBC.
Imagens divulgadas nas redes sociais, inclusive por membros das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), grupo paramilitar rival que controla boa parte de Darfur, mostram bancas de mercado destruídas e corpos carbonizados. Embora o Exército sudanês negue ter atacado civis, afirmando que suas investidas são direcionadas apenas a alvos hostis legítimos, o impacto do bombardeio no mercado gerou grande repercussão.

De acordo com outro grupo ativista, Iniciativa de Justiça e Paz de Darfur, o ataque ocorreu na segunda-feira (24) e é considerado o mais letal desde o início do conflito, em abril de 2023. Apesar das acusações, o Exército sudanês insiste que não mira civis, enquanto as RSF, que controlam grande parte da região de Darfur, são acusadas de usar drones no conflito e atingir também civis.
A guerra civil no Sudão já forçou cerca de 12 milhões de pessoas a abandonarem suas casas, uma quantidade equivalente à população inteira da Bélgica ou da Tunísia. Além disso, o conflito, que já matou pelo menos 150 mil pessoas, gerou uma crise humanitária severa, com mais da metade da população enfrentando altos níveis de insegurança alimentar, segundo a ONU.
Enquanto isso, as RSF negam as acusações de genocídio em Darfur, incluindo denúncias de assassinatos em massa e estupros de mulheres não árabes como meio de “limpeza étnica”. A ONU (Organização das Nações Unidas) descreve a situação no Sudão como a pior crise humanitária do mundo atualmente, com milhões de vidas em risco devido à violência desenfreada e à fome generalizada.
Por que isso importa?
O Sudão vive um violento conflito civil que coloca frente a frente dois generais que comandam o país africano desde o golpe de Estado de 2021: Abdel Fattah al-Burhan, chefe das SAF, e Mohamed Hamdan “Hemedti” Daglo, à frente da milícia das RSF.
As tensões decorrem de divergências sobre a incorporação dos combatentes das RSF às Forças Armadas, o que levou a milícia a se insurgir. Hemedti tinha originalmente entre 70 mil e cem mil homens sob seu comando, de acordo com a rede Deutsche Welle (DW), enquanto al-Burhan liderava um efetivo de cerca de 200 mil no início do conflito.
No dia 16 de abril, um domingo, explosões puderam ser ouvidas no centro da capital Cartum, mais precisamente no entorno do quartel-general militar do Sudão e do palácio presidencial, locais estratégicos reivindicados tanto por militares quanto pelas RSF.
O aeroporto internacional da capital, tomado pela milícia, foi bombardeado com civis dentro. Aeronaves foram destruídas, e caças da força aérea sudanesa e tanques foram usados contra os paramilitares.
Embora as SAF sejam mais bem equipadas e em maior número, as RSF são igualmente bem treinadas, o que equilibra as ações. O balanço de forças apenas prolonga as hostilidades e a violência decorrente, com nenhum dos dois lados conseguindo se impor sobre o inimigo.
A terrível situação gera uma grave escassez de suprimentos essenciais, já que as entregas de produtos comerciais e de ajuda humanitária foram fortemente restringidas pelos combates e pelos desafios de acesso ao território controlado pelas RSF.