Conflito no Sudão está escalando para violência étnica, diz enviado da ONU

Representante especial do secretário-geral no país condena uso de hospitais como posições militares e alerta para a violência sexual contra mulheres

O crescente tom étnico do conflito no Sudão pode mergulhar o país em uma guerra prolongada, com implicações para toda a região. Esse foi o alerta do representante especial do secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas) para o Sudão, Volker Perthes, ao falar ao Conselho de Segurança na segunda-feira (22).

O enviado disse que na capital do país, Cartum, bem como na cidade de Darfur, ambas as partes do conflito seguem desrespeitando as leis e regras da guerra.

Perthes destacou quatro prioridades centrais para reverter a situação da nação africana e disse que é necessário um “cessar-fogo estável, acompanhado de um mecanismo de monitoramento”.

O representante especial acredita que, no longo prazo, o objetivo é reestabelecer um processo político marcado por “ampla participação de atores civis e políticos, inclusive mulheres”.

Segundo dados da ONU, 860 pessoas morreram, sendo 190 delas crianças. A quantidade de sudaneses que fugiram da violência ultrapassa um milhão. Existem 840 mil deslocados internos e mais de 250 mil pessoas que atravessaram a fronteira para outros países. Quase oito mil deslocadas são mulheres grávidas.

Refugiados do Sudão esperam por itens não alimentares essenciais no Chade (Foto: Donaig Le Du/Unicef)
Fronteiras abertas

O representante especial disse estar “grato” aos países que estão recebendo os refugiados sudaneses. Para ele, “é vital que as fronteiras continuem abertas para aqueles que estão buscando segurança”.

Perthes comentou que em El Geneina, no oeste de Darfur, o confronto passou para violência étnica em 24 de abril, quando “milícias tribais passara a lutar e civis pegaram em armas para se defender”.

Casas, mercados e hospitais foram saqueados e queimados. As instalações da ONU também foram saqueadas. Cerca de 450 civis morreram neste episódio.

O enviado declarou ainda ser “inaceitável” o uso de hospitais para fins militares. E citou relatos de violência sexual contra mulheres e meninas, dizendo que as Nações Unidas estão investigando os casos.

Violação de acordo

Os combates entre as Forças Armadas Sudanesas e as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), iniciados em 15 de abril, continuam.

Em 11 de maio, ambas as partes adotaram uma Declaração de Compromisso para Proteger os Civis do Sudão. O texto ficou conhecido como acordo de Jedá, em referência à cidade da Arábia Saudita. Porém, pelo menos 11 ataques contra instalações humanitárias em Cartum e quatro ataques a instalações de saúde foram relatados desde a assinatura da Declaração.

Aumento do conflito em El Geneina

Um novo acordo para um cessar-fogo de curto prazo e arranjos humanitários foi assinado pelas partes no último sábado (20), entrando em vigor 48 horas depois.

O Escritório de Assistência Humanitária da ONU (Ocha) aponta que o conflito aumentou em El Geneina, deslocando pelo menos 85 mil pessoas e deixando civis sem acesso a cuidados de saúde, água e suprimentos básicos.

O Plano de Resposta Humanitária revisado para o Sudão pede US$ 2,6 bilhões para fornecer assistência vital a 18,1 milhões de pessoas no país.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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