Egito e Etiópia buscam acordo em disputa sobre barragem africana

O governo da Etiópia emitiu uma declaração conjunta sobre "negociações aceleradas" após o primeiro-ministro Abiy Ahmed discutir a represa com o presidente do Egito durante uma reunião regional

Depois de anos de tratativas sem sucesso, Etiópia e Egito anunciaram na quinta-feira (13) seu compromisso em finalizar um acordo sobre as operações da Grande Barragem Etíope da Renascença (GERD, na sigla em inglês), a maior represa da África, em um prazo de quatro meses. Essa declaração conjunta, emitida pelo governo etíope, representa um avanço aparente em uma disputa que o Cairo descreve como uma “ameaça existencial”. As informações são da agência Associated Press.

O anúncio foi feito depois que o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, discutiu a questão da barragem com o presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sissi, durante uma reunião regional sobre o conflito no Sudão, país vizinho. Cartum também está envolvida nas negociações referentes à GERD, um projeto de US$ 4,6 bilhões situado no trecho etíope do Nilo Azul, a apenas 10 quilômetros da fronteira sudanesa.

O Egito, que depende do rio Nilo para fornecer água potável a sua população em rápido crescimento de 100 milhões de habitantes, e a Etiópia, que alega que a barragem ajudará a tirar milhões de seus 110 milhões de cidadãos da pobreza, estão buscando um acordo sobre a questão.

O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, e o presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sissi, discutiram questões bilaterais e regionais de interesse mútuo (Foto: Federal Government of Ethiopia/Reprodução Twitter)

Nos últimos anos, as tensões aumentaram à medida que a Etiópia começou a encher o reservatório da barragem anualmente. A situação se tornou ainda mais complicada devido às disputas sobre a quantidade de água que Adis Abeba irá liberar rio abaixo em caso de uma seca prolongada.

A nova declaração conjunta não especifica se o acordo será juridicamente vinculativo, uma demanda do Egito e do Sudão. Além disso, não menciona se as negociações serão conduzidas sob os auspícios da União Africana, preferência da Etiópia. Vários mediadores, incluindo os Estados Unidos, têm buscado facilitar as negociações no passado.

Enquanto as partes buscam uma resolução, o presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, elogiou a decisão conjunta dos líderes etíopes e egípcios de reiniciar as negociações sobre a barragem, reconhecendo a importância desse diálogo.

As negociações atuais estão centradas em questões cruciais, como a resolução de disputas futuras relacionadas à barragem e a definição de um plano para a liberação de água pela Etiópia em momentos de secas prolongadas. Esses pontos desempenham um papel fundamental na busca por um acordo que atenda aos interesses e preocupações de ambas as nações.

A barragem

A Grande Barragem Etíope da Renascença (GERD) é uma megaprojeto hidroelétrico localizado no Rio Nilo Azul, na região de Benishangul-Gumuz, na Etiópia. O local tem sido um projeto polêmico e controverso desde o seu início.

O objetivo principal da GERD é a geração de energia hidroelétrica para a Etiópia, com uma capacidade instalada planejada de cerca de 6.450 megawatts. A barragem é projetada para fornecer eletricidade para a população etíope e também exportar energia para países vizinhos, como o Sudão e o Egito.

No entanto, a construção da GERD gerou tensões entre a Etiópia, o Sudão e o Egito, uma vez que a represa pode ter implicações significativas para o fluxo de água do Nilo, que é uma importante fonte de água para todos os três países. O Egito, em particular, tem expressado preocupações de que a barragem possa reduzir seu fornecimento de água, prejudicando a agricultura e o abastecimento de água potável em seu território.

As negociações entre os países têm sido complicadas, e a questão da divisão das águas do Nilo e as preocupações sobre a segurança da barragem continuam a ser pontos de disputa. A situação política e diplomática em torno da GERD tem sido acompanhada de perto pela comunidade internacional, que busca uma solução para garantir a cooperação entre as nações envolvidas e evitar possíveis conflitos.

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