EUA acusam grupo paramilitar sudanês de genocídio em Darfur

Relatório aponta violência étnica sistemática, incluindo assassinatos e violência sexual, com sanções impostas aos responsáveis

Os Estados Unidos acusaram formalmente o grupo paramilitar sudanês Forças de Suporte Rápido (RSF, na sigla em inglês) de genocídio, destacando uma onda de violência étnica em Darfur, região oeste do Sudão. Segundo Antony Blinken, secretário de Estado, o grupo e suas milícias aliadas realizaram assassinatos sistemáticos e abusos sexuais contra grupos étnicos específicos. As informações são do jornal The New York Times.

“As RSF e milícias associadas têm sistematicamente assassinado homens e meninos — até mesmo bebês — com base étnica, além de atacarem mulheres e meninas com violência sexual brutal”, afirmou Blinken. “Essas mesmas milícias têm como alvo civis em fuga, assassinando pessoas inocentes que escapam do conflito e impedindo que os civis restantes tenham acesso a suprimentos vitais”.

Além das declarações, os EUA impuseram sanções contra o líder do grupo, general Mohamed Hamdan Daglo, e empresas nos Emirados Árabes Unidos que forneceram suporte financeiro e militar às RSF. Essas empresas facilitaram o comércio de ouro e armas, fortalecendo as operações do grupo, segundo o Departamento do Tesouro norte-americano.

A acusação de genocídio ocorre quase 20 anos após os EUA adotarem postura semelhante contra as milícias Janjaweed, aliadas ao governo sudanês na época e precursoras das RSF. Agora, as forças paramilitares se voltam contra o próprio exército do Sudão em uma guerra civil que devastou o país, levando milhões ao deslocamento forçado e ao aumento da fome extrema.

O general Mohamed Hamdan Daglo, conhecido como Hemedti, líder de uma das RSF (Foto: Twitter pessoal)

Entre abril e novembro de 2023, as RSF concentraram ataques contra o grupo étnico Masalit, resultando na morte de até 15 mil pessoas apenas na cidade de Geneina, segundo estimativas da ONU (Organização das Nações Unidas). Centenas de milhares de Masalit fugiram para o Chade, onde vivem em condições precárias em campos de refugiados.

Daglo, conhecido como Hemedti, acumulou riqueza e poder durante anos como comandante dos Janjaweed e aliado do ex-presidente Omar al-Bashir. Atualmente, enfrenta perda de territórios e novas restrições financeiras e diplomáticas devido às sanções americanas, incluindo a proibição de viagens aos EUA.

Embora a decisão dos EUA não obrigue ações diretas sob a lei internacional, especialistas avaliam que pode aumentar os esforços de responsabilização pelos crimes cometidos no Sudão, onde até 150 mil pessoas já morreram desde o início do conflito. A fome se espalha rapidamente, com 25 milhões de sudaneses enfrentando insegurança alimentar severa, de acordo com o Comitê Internacional de Avaliação da Fome (IPC).

A acusação americana também lança luz sobre o papel dos Emirados Árabes Unidos, que, segundo autoridades, têm fornecido armas e drones às RSF, além de facilitar o comércio de ouro para financiar suas operações. Empresas como a Capital Tap Holding e AZ Gold foram sancionadas por estarem diretamente envolvidas nessas atividades.

Apesar das críticas sobre a demora dos EUA em agir, o anúncio foi recebido como um passo importante para expor as atrocidades no Sudão. “É tarde demais, e muitas pessoas morreram para que isso corrija o curso da história”, afirmou Cameron Hudson, ex-diplomata norte-americano e especialista em Sudão.

As tensões permanecem elevadas no país, enquanto esforços internacionais buscam promover um cessar-fogo e uma transição política liderada por civis. Tom Perriello, enviado especial dos EUA para o Sudão, destacou que os dois lados no conflito “devem concordar com a cessação das hostilidades para que uma transição política civil possa acontecer.”

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