EUA doam US$ 9 milhões em armas à Somália para a luta contra o Al-Shabaab

Pacote inclui metralhadoras pesadas, veículos de apoio, kits de descarte de explosivos e suprimentos médicos

A unidade de elite das forças especiais da Somália, popularmente conhecida como Danab, recebeu uma doação de US$ 9 milhões em armas das forças armadas norte-americanas para fortalecer o combate ao terrorismo no país africano. As informações são do site local Garowe.

A doação foi confirmada no último domingo (8) pela embaixada dos EUA em Mogadíscio, a capital somali. O pacote inclui metralhadoras pesadas, veículos de apoio, kits de descarte de explosivos, suprimentos médicos e equipamentos de manutenção.

Segundo o presidente Hassan Sheikh Mohamud, o armamento será crucial para o grupamento Danab intensificar os ataques ao Al-Shabaab, grupo extremista ligado à Al-Qaeda que controla determinadas áreas rurais do país africano.

O objetivo final, de acordo com o líder somali, é retomar o controle total dos Estados de Hirshabelle e Galmudug, onde os insurgentes marcam forte presença.

Parte das tropas dos EUA em Mogadíscio, Somália, outubro de 2019 (Foto: U.S. Army/Paige Behringer)

“Nove milhões de dólares em armas, veículos e equipamentos dos Estados Unidos apoiarão a campanha bem-sucedida da SNA Force (forças armadas da Somália) para libertar as comunidades da Somália do Al-Shabaab”, disseram os EUA em comunicado.

Washington também apoia as forças somalis no campo de batalhas, tendo anunciado em 2022 o envio de cerca de 500 soldados ao país africano. O governo norte-americano havia decidido retirar suas tropas do território somali durante o governo do presidente Donald Trump, mas Joe Biden reativou a missão.

Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana (UA). Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Um levantamento feito pela ONU (Organização das Nações Unidas) e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano passado na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam ainda casos de vítimas civis atingidas pelas forças do governo, por milícias armadas aliadas às forças armadas somalis e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, Mohamud iniciou, em agosto do ano passado, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Ao prometer confrontar os insurgentes, ele inclusive alertou a população para que não seja pega no fogo cruzado. “O Al-Shabaab será confrontado usando todos os métodos que a guerra permitir. Eles serão bombardeados, invadidos e submetidos a ataques aéreos. Então, fique longe deles”, disse Mohamud.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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