Exército do Mali perde 15 militares em ataques de extremistas islâmicos

Três ataques contra as forças armadas foram registrados na quarta, sendo que dois deles deixaram soldados e civis mortos

Dois ataques separados, ambos atribuídos a extremistas islâmicos, mataram 15 militares e três civis no sudoeste do Mali, na quarta-feira (27). A informação foi divulgada em um comunicado oficial das forças armadas malianas e reproduzida pela agência Reuters.

Um dos ataques aconteceu em Sonkolo, uma comuna rural na região de Segou, mais de 300 quilômetros a norte da capital Bamako. O alvo foi um acampamento militar, onde seis soldados morreram e 25 ficaram feridos.

Já na cidade de Kalumba, nove soldados e três civis morreram em um ataque que ocorreu no início da manhã, horário local. Houve ainda um terceiro ataque, este na cidade de Mopti, região central do país, mas os agressores foram repelidos e não houve baixas entre os militares.

As forças armadas afirmam que, apesar das fatalidades, os ataques foram devidamente respondidos, com 48 insurgentes mortos. Nenhum grupo em particular assumiu a autoria dos atentados, embora o país enfrente um aumento da insurgência de facções ligadas ao Estado Islâmico (EI) e à Al-Qaeda.

Na última sexta-feira (22), o Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos (GSIM, na sigla em francês), organização extremista vinculada à Al-Qaeda, assumiu a autoria de um ataque terrorista contra uma base militar em Kati, a cerca de 15 quilômetros de Bamako.

Os extremistas usaram dois carros-bomba para realizar o ataque, que deixou seis pessoas feridas. De acordo com os militares, sete agressores foram mortos e oito foram presos na ocasião. Foi o mais próximo que os jihadistas chegaram da capital nacional em anos.

Assimi Goita, coronel que governa o Mali, escoltado pelo exército (Foto: Twitter/PresidenceMali)
Retirada francesa

Desde o ano passado, as forças armadas francesas iniciaram um processo de retirada de tropas devido a um desacerto entre os governos da França e do Mali. A decisão gerou dúvidas quanto à capacidade de o país africano sustentar os avanços na luta contra o jihadismo.

Segundo o general francês Laurent Michon, comandante da Operação Bakhane de combate ao terrorismo, a retirada dos militares franceses não tem nenhuma relação com a chegada ao Mali do grupo russo de mercenários Wagner Group, como se especulava. Ele diz que o governo militar maliano desde o início deixou claro seu desejo de “nos ver partir sem demora”.

A partir da saída do Mali, a Operação Barkhane tende a mudar sua abordagem e oferecer ajuda apenas aos países que a solicitarem. Nas palavras do comandante, os militares franceses darão “suporte sob demanda, adaptado com flexibilidade para atender às intenções de tal ou tal país”.

Permanecerão no Sahel africano cerca de 2,5 mil soldados da França, que passarão a atuar como coadjuvantes, dando o protagonismo aos países anfitriões.

Por que isso importa?

A instabilidade no Mali começou com o golpe de Estado em 2012, quando vários grupos rebeldes e extremistas tomaram o poder no norte do país. De quebra, a nação, independente desde 1960, viveu em maio de 2021 o terceiro golpe de Estado em um intervalo de apenas dez anos, seguindo o que já havia ocorrido em 2012 e também em 2020.

A mais recente turbulência política começou semanas antes do golpe, com a demissão do primeiro-ministro Moctar Ouane pelo presidente Bah Ndaw. Reconduzido ao cargo pouco depois, Ouane não conseguiu formar um novo governo, e a tensão aumentou com a falta de pagamento dos salários dos professores. O maior sindicato da categoria, então, começou a se preparar para uma greve.

Veio a noite do dia 24 de maio, quando o coronel Assimi Goita, vice-presidente do país, destituiu Ndaw e Ouane de seus cargos e ordenou a prisão de ambos na capital Bamako. Segundo ele, os dois líderes civis violaram a carta de transição ao não consultarem o militar na formação do novo governo.

Ao contrário do que ocorreu em golpes anteriores, que contaram com apoio popular, desta vez a maior parte da população malinesa rejeitou a tomada de poder por Goita, que derrubou o governo de transição recém-instituído e assumiu o comando do país. A população civil não foi às ruas protestar contra o militar, mas usou as redes sociais para mostrar sua insatisfação.

Militarmente, especialistas e políticos ocidentais enxergam uma geopolítica delicada na região, devido ao aumento constante da influência de grupos jihadistas ligados à Al-Qaeda e ao EI e à consequente explosão da violência nos confrontos entre extremistas e militares.

Além disso, trata-se de uma posição importante para traficantes de armas e pessoas, e o processo em curso de redução das tropas franceses, que atuam no país desde 2013, tende a piorar a situação.

Os conflitos, antes concentrados no norte do país, se expandiram inclusive para os vizinhos Burkina Faso e Níger. A região central do Mali se tornou um dos pontos mais violentos de todo o Sahel africano, com frequentes assassinatos étnicos e ataques extremistas contra forças do governo.

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