Desde o dia 24 de outubro, manifestações pós-eleitorais em Moçambique resultaram em uma série de abusos por parte das forças de segurança, incluindo a morte de pelo menos dez crianças e ferimentos em dezenas de outras. Segundo a ONG Human Rights Watch (HRW), centenas de crianças foram detidas, muitas vezes sem notificação às famílias, em uma violação clara dos direitos humanos.
As tensões começaram após as eleições de 9 de outubro, quando apoiadores de Venâncio Mondlane, candidato independente à presidência, e do partido de oposição Podemos rejeitaram o resultado oficial que declarava vitória do partido governista. Protestos pacíficos logo evoluíram para confrontos, com as forças de segurança usando munição real, balas de borracha e gás lacrimogêneo.
Em um dos episódios, uma garota de 13 anos foi morta por uma bala perdida enquanto voltava da escola. “A situação já estava tensa, mas minha sobrinha tinha que ir à aula porque havia uma prova”, relatou a tia da vítima. “Ela foi pega no meio de uma multidão fugindo de gás lacrimogêneo e disparos.”
Outras crianças também foram atingidas em situações semelhantes. Uma mãe em Maputo relatou que seu filho de seis anos foi baleado enquanto ambos aguardavam na fila de uma padaria. “Tentamos correr, mas não havia para onde ir. Uma bala o acertou no estômago”, disse. O menino foi levado às pressas ao hospital por policiais.
Além das mortes e ferimentos, crianças foram detidas durante os protestos, muitas sem contato com suas famílias por dias. A Ordem dos Advogados de Moçambique conseguiu a libertação de mais de 2,7 mil pessoas, incluindo muitos menores, segundo a chefe de direitos humanos da entidade Feroza Zacarias.
As autoridades moçambicanas, no entanto, criticaram a participação de crianças nas manifestações. O Conselho Nacional de Defesa condenou o que chamou de “tentativa velada de subverter a ordem democrática”, sem mencionar os abusos cometidos contra menores.
Organizações de direitos humanos pedem que governos internacionais pressionem Moçambique a conter o uso desproporcional de força.
“As autoridades devem responsabilizar os culpados e priorizar a proteção das crianças”, afirmou Allan Ngari, diretor da HRW para a África.