Funcionária da OMS está entre as vítimas fatais do ataque do Al-Shabaab a hotel da Somália

Ataque ao Hotel Pearl, em Mogadíscio, terminou com a morte de nove pessoas e com outras 84 libertadas pelas forças de segurança

Um ataque realizado pelo Al-Shabaab ao Hotel Pearl, em Mogadíscio, capital da Somália, terminou com a morte de seis civis e três membros das forças de segurança somalis. Entre os mortos está Nasra Hassan, funcionária da OMS (Organização Mundial de Saúde) no país africano, como confirmou a entidade no domingo (11).

Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, lamentou o ataque em sua conta no Twitter. “Estou com o coração partido por termos perdido uma funcionária da OMS no recente ataque em Mogadíscio, Somália. Meus sinceros sentimentos aos familiares e a todos que perderam um ente querido”, disse ele. “Condenamos todos os ataques a civis e trabalhadores humanitários.”

A OMS emitiu um pronunciamento oficial assinado por Malik Mamunur, seu representante na Somália. “Condenamos todos os ataques a civis inocentes e trabalhadores de ajuda humanitária e expressamos nossas mais profundas condolências aos familiares de todos os que foram mortos neste ataque”, disse ele, segundo a ONU News.

Ahmed Al-Mandhari, diretor regional da OMS para o Mediterrâneo Oriental, também se manifestou. “Estamos chocados com a trágica perda de vidas neste ataque sem sentido, incluindo a morte de Nasra Hassan, uma funcionária nacional da OMS”, afirmou.

“Condenamos veementemente este hediondo ataque a um hotel que ceifou tantas vidas, incluindo a preciosa vida de uma de nossas mais queridos colegas”, acrescentou Al-Mandhari, contando que Hassan atuava no escritório da OMS na Somália para apoiar as operações de resposta de emergência à seca em Jubaland.

Tedros Adhanom Ghebreyesus: OMS vitimada pelo terrorismo na Somália (Foto: UN Photo/Elma Okic)

A ação dos extremistas começou na noite de sexta-feira (9) e se estendeu até a madrugada de sábado (10), quando, de acordo com a rede CNN, 84 pessoas que estavam no estabelecimento foram libertadas. As forças de segurança conseguiram neutralizar os cinco terroristas que realizaram a ação, segundo informou o site local Garowe.

Este não é o primeiro ataque a um hotel realizado pelo Al-Shabaab, grupo extremista ligado à Al-Qaeda. Somente no ano passado foram três episódios semelhantes.

Em julho de 2022, um carro-bomba explodiu do lado de fora de um hotel na cidade de Jowhar, cerca de 50 quilômetros a norte de Mogadíscio. No mês seguinte, o alvo foi o Hotel Hayat, na capital. Em outubro ocorreu um ataque contra um hotel na cidade de Kismayo, no sul do país.

Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana (UA). Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano passado na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de vítimas civis atingidas pelas forças do governo, por milícias armadas aliadas às forças armadas somalis e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto do ano passado, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Ao prometer confrontar os insurgentes, ele inclusive alertou a população para que não seja pega no fogo cruzado. “O Al-Shabaab será confrontado usando todos os métodos que a guerra permitir. Eles serão bombardeados, invadidos e submetidos a ataques aéreos. Então, fique longe deles”, disse Mohamud.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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