Janela de oportunidade está se fechando para buscar a paz no Sudão do Sul, diz ONU

Em meio à guerra civil, à violência comunitária e ao excesso de chuvas, mais de dois milhões de sudaneses do sul estão deslocados internamente

Com oito meses restantes, a janela de oportunidade está se fechando para o Sudão do Sul cumprir os marcos críticos necessários para completar sua transição para longe do conflito civil de longa duração. O alerta partiu do representante especial da ONU (Organização das Nações Unidas) para o país, Nicholas Haysom, que falou ao Conselho de Segurança na segunda-feira (20).

Haysom instou as partes do acordo de novembro de 2018 a implementarem os compromissos assumidos há quase quatro anos. “Isso inclui a participação plena e adequada das mulheres em todos os mecanismos contemplados pelo [Acordo Revitalizado sobre a Resolução de Conflitos no Sudão do Sul]”, disse ele, que também é chefe da Missão das Nações Unidas no país (UNMISS).

Apesar dos atrasos, o representante disse que houve progresso. As partes superaram um impasse crítico e chegaram a um acordo inovador sobre uma única estrutura de comando conjunto para as Forças Unificadas Necessárias em 3 de abril. Já a formação da legislatura de transição reconstituída nos níveis nacional e estadual está agora concluída, e a atividade legislativa e o debate renovados são perceptíveis.

“O fato de que pelo menos algumas das diferenças políticas são combatidas no Parlamento e não fora dele é um desenvolvimento bem-vindo”, acrescentou.

Missão da ONU no Sudão do Sul em 2019 (Foto: Unmiss)

“O que é necessário é liderança nacional, recursos e um compromisso visível dos líderes do Sudão do Sul para cumprirem suas responsabilidades sob o acordo de paz”, esclareceu, instando as partes a tomarem as medidas necessárias para encerrar o período de transição.

Voltando-se para a escala da violência latente em todo o país, Haysom disse que, nos Estados de Equatoria Oriental e Central, Unity, Warrap e Jonglei, bem como na Área Administrativa de Abyei, os civis sofreram vários ataques, alimentando um ciclo de roubo de gado, sequestros, assassinatos por vingança e violência baseada em gênero. Somente neste ano, mais de 80% das vítimas civis foram atribuídas à violência intercomunitária e às milícias comunitárias.

Embora a UNMISS esteja implantando uma postura cada vez mais móvel e robusta, “francamente, não podemos estar em todos os lugares”, disse o representante. A visão estratégica de três anos solicitada pelo Conselho de Segurança continua sendo a estrutura para seus esforços integrados, assegurou aos embaixadores.

“Deterioração” humanitária

De acordo com Ghada Mudawi, diretora interina da Divisão de Operações e Advocacia do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), “a maioria dos indicadores humanitários se deteriorou” desde o final de 2021.

À medida que a violência localizada continua, o deslocamento e a luta por recursos como o gado se seguiram. Mulheres e meninas correm sério risco de violência de gênero.

“Quando fica tão ruim quanto no Sudão do Sul, o espectro da fome e a fome extrema são o resultado”, apontou ela, observando que o país agora enfrenta um quarto ano de chuvas acima da média, o que interrompeu a temporada agrícola e restringiu a produção de alimentos. Além disso, pelo menos 500 mil pessoas provavelmente serão afetadas por inundações em 2022.

Com mais de dois milhões de sudaneses do sul deslocados internamente e 2,3 milhões vivendo como refugiados, Mudawi cobrou do governo a abordagem de questões que mantêm as pessoas em um padrão de deslocamento: insegurança, presença de riscos explosivos, falta de serviços básicos e moradia não resolvida, e questões de propriedade. Nesse contexto, assegurou que os parceiros humanitários estão “comprometidos em ficar e entregar”.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News

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