Jihadistas mataram 24 soldados de Burkina Faso nesta semana, segundo o governo

Somente nos últimos dez dias, mais de 60 civis, policiais ou soldados foram mortos em ataques extremistas no país africano

O governo de Burkina Faso anunciou na quarta-feira (23) que 24 soldados do exército foram mortos nesta semana em dois ataques empreendidos por jihadistas. Em menos de duas semanas, as forças de segurança registraram sete ações terroristas no país, de acordo com o site The Defense Post.

Um dos ataques, no domingo (20), foi realizado por homens armados que atingiram uma unidade militar. Inicialmente, os militares informaram 11 mortos entre os soldados burquinabês, número que posteriormente subiu para 13.

O incidente aconteceu em Natiaboani, uma comunidade rural localizada a aproximadamente 60 quilómetros de Fada N’Gourma, a maior localidade da Região Leste do país, que desde 2018 tem sido alvo regular de grupos armados.

Mais ao sul, perto das fronteiras com Gana e Togo, outra ação de extremistas levou mais 11 militares à morte. “Um veículo das forças de segurança atingiu um dispositivo explosivo improvisado (IED, na sigla em inglês)”, disse uma fonte militar que não quis se identificar.

Em resposta aos ataques, o exército diz que 35 terroristas foram mortos em “intensas” operações das forças de segurança. Somente nos últimos dez dias, mais de 60 civis, policiais ou soldados foram mortos em ataques extremistas.

Soldados de Burkina Faso em ação contra extremistas, fevereiro de 2020 (Foto: U.S. Army/Divulgação)

Por que isso importa?

Burkina Faso convive desde 2015 com a violência de grupos ligados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico (EI), insurgência que levou a um conflito com as forças de segurança e matou mais de duas mil pessoas. Grupos armados lançam ataques ao exército e a civis, desafiando também a presença de tropas francesas e internacionais.

Os ataques costumavam se concentrar no norte e no leste, mas agora estão se alastrando por todo o país. O pior ataque jihadista já registrado em Burkina Faso ocorreu em 5 de junho de 2021, quando insurgentes incendiaram casas e atiraram em civis ao invadirem a vila de Solhan, no norte. Na ocasião, 160 pessoas morreram.

Após um período de relativa calmaria, a violência aumentou nos últimos meses, após a tomada do poder no país por uma junta militar, em janeiro de 2022. Oficiais descontentes derrubaram o presidente eleito Roch Marc Christian Kabore, que vinha enfrentando protestos pela forma como lidou com a sangrenta insurgência jihadista.

Os ataques de grupos extremistas geraram uma crise humanitária que forçou mais de dois milhões de pessoas a fugirem de suas casas, com cerca de duas mil mortes ligadas ao conflito. Estima-se que quase 5 milhões de pessoas sofram de insegurança alimentar, com quase 3 milhões em situação de insegurança alimentar aguda.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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