Autoridades militares no Níger tomaram o controle das operações de mineração de urânio da empresa francesa Orano, marcando mais um capítulo nas tensões crescentes entre o país africano e a França. Desde o golpe militar em julho de 2023, os governantes têm revisado as normas que regulam a exploração de recursos naturais por empresas estrangeiras. As informações são da rede BBC.
Em junho, a licença da Orano para operar um dos maiores depósitos de urânio do mundo foi revogada, levando à suspensão das atividades. Além disso, problemas logísticos, como o fechamento da fronteira com o Benim por questões de segurança, impediram a exportação de 1,15 mil toneladas de urânio concentrado, avaliadas em aproximadamente US$ 210 milhões.
A Orano declarou que pretende “defender seus direitos perante os órgãos competentes” e trabalhar com todas as partes interessadas para “restabelecer um modo de operação estável e sustentável”. Porém, o governo militar do Níger tem mostrado insatisfação com os contratos firmados anteriormente.
“O Estado francês, por meio de seu chefe de Estado, declarou que não reconhece as atuais autoridades no Níger. Parece possível para você que nós, o Estado do Níger, permitamos que empresas francesas continuem extraindo nossos recursos naturais?”, afirmou o ministro das Minas, coronel Abarchi Ousmane.
A crise marca um agravamento nas relações entre o Níger e a França, que já havia enfrentado a retirada de tropas francesas do território nigerino. Antes do golpe, o Níger respondia por 15% a 20% do urânio importado pela França, essencial para sua produção de energia nuclear. Atualmente, o país representa cerca de 5% da produção global do mineral, figurando entre os dez maiores produtores do mundo.
A história da exploração de urânio no Níger remonta à independência do país, em 1960, quando a França garantiu acesso exclusivo ao recurso por meio de acordos bilaterais. Desde então, a presença francesa no setor tem sido significativa, mas o atual governo militar busca ampliar os lucros provenientes da mineração e diversificar os parceiros internacionais, abrindo portas para empresas da Rússia e da Turquia.
Enquanto o Níger avança em sua estratégia de reduzir a dependência de antigos laços coloniais, a Orano enfrenta um cenário incerto. Há meses, a empresa vem alertando sobre interferências na gestão de sua subsidiária local, Somair, da qual o Estado do Níger detém 36,6% das ações.