Junta militar do Níger planeja acusar presidente deposto por ‘alta traição’

As acusações contra Mohamed Bazoum surgem logo após uma delegação nigerina afirmar que os líderes golpistas estão dispostos a buscar soluções diplomáticas para a crise

A junta militar que assumiu o controle no Níger tornou público no domingo (13) seu plano de processar o presidente deposto, Mohamed Bazoum, por acusações de “alta traição” e diminuição da segurança do Estado. O anúncio foi feito pouco tempo após os líderes que orquestraram o golpe de Estado no mês passado afirmarem que estavam dispostos a dialogar com nações da África Ocidental para buscar uma resolução à crise regional. As informações são da agência Al Jazeera.

Numa declaração transmitida pela televisão nacional, um porta-voz dos militares nigerinos detalhou as acusações contra Bazoum, que incluem “alta traição e enfraquecimento da segurança interna e externa” do país. Caso seja considerado culpado, o político pode enfrentar a pena de morte, de acordo com o código penal vigente no país.

Tanto a ONU (Organização das Nações Unidas) quanto a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) condenaram o anúncio feito pelas autoridades nigerinas.

Mohamed Bazoum, presidente deposto do Níger (Foto: WikiCommons)

O presidente deposto Bazoum, de 63 anos, e sua família permanecem sob detenção na residência oficial em Niamey desde o golpe ocorrido em 26 de julho, suscitando cada vez mais preocupações globais acerca das condições de sua reclusão.

A CEDEAO demandou a reinstauração de Bazoum, impondo rigorosas sanções econômicas ao Níger e ameaçando com possível intervenção militar, caso a restauração do governo civil não seja realizada.

Nesta segunda-feira (14), o principal bloco econômico da África Ocidental condenou as ameaças dos líderes militares do Níger de processar Bazoum.

“Isso representa mais um ato de provocação e vai de encontro à alegada intenção das autoridades militares da República do Níger de restaurar a ordem constitucional por meios pacíficos”, afirmou em um comunicado.

Uma tentativa de levantar acusações de alta traição contra Bazoum é considerada “profundamente preocupante”, destacou a porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, na segunda-feira.

“Permanecemos extremamente inquietos com a situação, a saúde e a segurança do presidente e de sua família. Mais uma vez, fazemos um apelo urgente à sua libertação imediata e incondicional, bem como à sua reinstalação como chefe de Estado”, afirmou Dujarric aos repórteres.

A junta foi pressionada internacionalmente para libertar e reinstaurar Bazoum. Após o golpe, a CEDEAO, deu um prazo de sete dias ao regime para sua volta ao poder, ameaçando intervenção militar em caso de descumprimento. Contudo, o prazo expirou sem ação por parte de nenhum dos lados.

O Níger, uma nação empobrecida com uma população de cerca de 25 milhões de habitantes, vinha sendo considerado um dos últimos parceiros potenciais das nações ocidentais na região do Sahel, no continente africano, para enfrentar a insurgência jihadista associada à Al Qaeda e ao Estado Islâmico (EI). Antes do golpe ocorrido no mês passado, tanto a Europa quanto os Estados Unidos haviam investido centenas de milhões de dólares para apoiar as forças armadas do país.

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