Mali, Burkina Faso e Níger, três países que sofreram golpes de Estado recentemente e são agora governados por juntas militares, não dão sinais de reaproximação em relação a seus vizinhos na África. Os líderes dessas nações anunciaram no sábado (6) a assinatura de um pacto de defesa mútua, bem como a decisão de se manterem fora da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
O distanciamento em dos antigos parceiros africanos atingiu o ápice em janeiro, quando eles anunciaram a saída da CEDEAO. Os demais países pressionavam pelo retorno da democracia nas três nações, que em resposta acusaram o bloco de ceder aos interesses estrangeiros. Agora, reforçaram a ruptura com a criação de um pacto batizado Aliança dos Estados do Sahel (AES).
“Neste dia histórico para o nosso povo, estou muito satisfeito com a assinatura, com os meus irmãos de Burkina e do Níger, dos textos relativos à operacionalização e criação da confederação AES”, disse o coronel Assimi Goita, que governa o Mali e se manifestou através da rede social X, antigo Twitter.

“Nossos povos viraram as costas irrevogavelmente à CEDEAO”, afirmou o general Abdourahamane Tchiani, que governa o Níger, conforme relatou a agência Reuters. “Cabe a nós hoje fazer da confederação AES uma alternativa a qualquer grupo regional artificial, construindo uma comunidade livre do controle de potências estrangeiras”, acrescentou.
O anúncio se segue a uma decisão anterior de estabelecer uma força militar conjunta para enfrentar a insurgência islâmica no Sahel, principal desafio de segurança da região. E vale como resposta prévia à CEDEAO, que realizará uma cúpula nesta semana e tinha como uma de suas diretrizes tentar convencer o trio a retornar.
O Mali é quem está há mais tempo sob um governo militar. O país viveu em maio de 2021 o terceiro golpe de Estado em um intervalo de apenas dez anos, colocando no poder o coronel Assimi Goita. O argumento para derrubar o governo democraticamente eleito, representado pelo primeiro-ministro Moctar Ouane e pelo presidente Bah Ndaw, foi a luta contra o extremismo.
O golpe em Burkina Faso veio sob a mesma justificativa, em janeiro de 2022. O capitão Ibrahim Traoré comanda o país desde então, sem qualquer sinal de que a insurgência islâmica será controlada. O Níger, onde a ameaça extremista é menor, nem por isso ficou livre da onda antidemocrática e foi palco de um golpe de Estado em julho do ano passado, com Tchiani ascendendo ao poder.
Foi o golpe no Níger que gerou um pequeno movimento democrático na África, sob a liderança da CEDEAO. O bloco impôs sanções e até ameaçou intervir militarmente, mas nada disso bastou para Tchiani recuar. Ao contrário, a pressão fortaleceu a aliança entre os três governos, que culminou com o pacto de defesa mútua assinado no sábado.
“Vamos criar uma AES dos povos, em vez de uma CEDEAO cujas diretivas e instruções lhe são ditadas por potências estrangeiras à África”, disse Tchiani, de acordo com a agência Al Jazeera. Em seu discurso, além de exaltar o novo acordo, ele afirmou que o bloco do qual os aliados se retiraram é “uma ameaça aos nossos Estados”.
Traore reforçou o discurso. “Os ocidentais consideram que pertencemos a eles e que nossa riqueza também pertence a eles. Eles acham que são eles que devem continuar a nos dizer o que é bom para nossos Estados”, disse ele.