Níger diz que EUA vão retirar suas tropas do país, importante base de operações na África

Ministro da junta militar diz que Washington apresentará um plano para 'desvincular' seus cerca de mil soldados da nação africana

O governo do Níger afirmou na quarta-feira (27) que as tropas norte-americanas pretendem se retirar do país africano, acatando assim uma determinação da junta militar que rompeu o pacto de segurança entre Washington e Niamei. As informações são do site The Defense Post.

O general Mohamed Toumba, ministro do Interior do governo militar nigerino, disse que conversou com a embaixadora norte-americana no país, Kathleen FitzGibbon, segundo quem os EUA apresentarão em breve uma proposta para “desvincular” seus cerca de mil soldados do Níger.

Os governos dos dois países começaram a se distanciar quando a junta militar assumiu o poder na nação africana, ato que os EUA reconheceram em outubro do ano passado como um golpe de Estado. Desde então, o apoio militar norte-americano vinha sendo reduzido, mas tropas foram mantidas no país devido à importância estratégica que ele ocupa no Sahel.

Soldados do exército do Níger realizam treinamento com forças estrangeiras em abril de 2018 (Foto: USAFRICOM/;Flickr)

A situação se tornou insustentável no início deste mês, após uma reunião que se desenrolou de forma tensa entre representantes dos dois governos. Washington teria contestado a presença crescente de combatentes russos no Níger, resultado da influência cada vez maior de Moscou no continente. A manifestação de insatisfação foi encarada como intrusiva pelos africanos, que romperam o pacto de segurança.

O Níger alega que o acordo havia sido “imposto unilateralmente” por Washington, que prefere manter a cautela e diz oficialmente que a situação não mudou. Segundo o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Matthew Miller, seu governo está “em contato com as autoridades de transição (referência à junta militar no poder) para pedir esclarecimentos.” 

Vitória da Rússia

Caso os militares dois EUA de fato saiam do Níger, isso criará sérios problemas para o combate ao terrorismo no continente africano. O país é considerado um ponto estrategicamente importante, pois a base em Agadez, ocupada por Washington, garante aos soldados uma posição segura para operar, com acesso a países onde a ação extremista é mais intensa, como os vizinhos Mali e Burkina Faso.

A situação já havia se complicado após a expulsão das tropas da França, país que igualmente perdeu a concorrência com a Rússia. A aliança de Moscou com as nações africanas, entretanto, não se faz através das Forças Armadas regulares, e sim de de mercenários. O Wagner Group foi quem primeiro se estabeleceu no continente, mas vem sendo desfeito desde a morte de seu líder, Evgeny Prigozhin.

Outros grupos surgiram nos mesmos moldes, e quem melhor se posiciona para assumir o espólio do antecessor é uma organização paramilitar privada chamada “The Africa Corps“, atrelada ao Ministério da Defesa russo, embora não seja integrada às Forças Armadas.

O porta-voz militar do Níger, coronel major Amadou Abdramane, confirmou a parceria com a Rússia, mas diz que ela foi negociada “sob uma base estatal, conforme acordos de cooperação militar assinados com o governo anterior (pré-golpe), para adquirir equipamento militar necessário à sua luta contra os terroristas que fizeram milhares de vítimas nigerinas inocentes sob o olhar indiferente de grande parte da comunidade internacional.”

Para Moscou, a África representa ainda uma fonte de renda crucial, conforme o país se afoga nos gastos com a guerra da Ucrânia. A Rússia faturou, somente desde o início do conflito, US$ 2,5 bilhões com ouro de países africanos.

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