O governo do Níger afirmou na quarta-feira (27) que as tropas norte-americanas pretendem se retirar do país africano, acatando assim uma determinação da junta militar que rompeu o pacto de segurança entre Washington e Niamei. As informações são do site The Defense Post.
O general Mohamed Toumba, ministro do Interior do governo militar nigerino, disse que conversou com a embaixadora norte-americana no país, Kathleen FitzGibbon, segundo quem os EUA apresentarão em breve uma proposta para “desvincular” seus cerca de mil soldados do Níger.
Os governos dos dois países começaram a se distanciar quando a junta militar assumiu o poder na nação africana, ato que os EUA reconheceram em outubro do ano passado como um golpe de Estado. Desde então, o apoio militar norte-americano vinha sendo reduzido, mas tropas foram mantidas no país devido à importância estratégica que ele ocupa no Sahel.

A situação se tornou insustentável no início deste mês, após uma reunião que se desenrolou de forma tensa entre representantes dos dois governos. Washington teria contestado a presença crescente de combatentes russos no Níger, resultado da influência cada vez maior de Moscou no continente. A manifestação de insatisfação foi encarada como intrusiva pelos africanos, que romperam o pacto de segurança.
O Níger alega que o acordo havia sido “imposto unilateralmente” por Washington, que prefere manter a cautela e diz oficialmente que a situação não mudou. Segundo o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Matthew Miller, seu governo está “em contato com as autoridades de transição (referência à junta militar no poder) para pedir esclarecimentos.”
Vitória da Rússia
Caso os militares dois EUA de fato saiam do Níger, isso criará sérios problemas para o combate ao terrorismo no continente africano. O país é considerado um ponto estrategicamente importante, pois a base em Agadez, ocupada por Washington, garante aos soldados uma posição segura para operar, com acesso a países onde a ação extremista é mais intensa, como os vizinhos Mali e Burkina Faso.
A situação já havia se complicado após a expulsão das tropas da França, país que igualmente perdeu a concorrência com a Rússia. A aliança de Moscou com as nações africanas, entretanto, não se faz através das Forças Armadas regulares, e sim de de mercenários. O Wagner Group foi quem primeiro se estabeleceu no continente, mas vem sendo desfeito desde a morte de seu líder, Evgeny Prigozhin.
Outros grupos surgiram nos mesmos moldes, e quem melhor se posiciona para assumir o espólio do antecessor é uma organização paramilitar privada chamada “The Africa Corps“, atrelada ao Ministério da Defesa russo, embora não seja integrada às Forças Armadas.
O porta-voz militar do Níger, coronel major Amadou Abdramane, confirmou a parceria com a Rússia, mas diz que ela foi negociada “sob uma base estatal, conforme acordos de cooperação militar assinados com o governo anterior (pré-golpe), para adquirir equipamento militar necessário à sua luta contra os terroristas que fizeram milhares de vítimas nigerinas inocentes sob o olhar indiferente de grande parte da comunidade internacional.”
Para Moscou, a África representa ainda uma fonte de renda crucial, conforme o país se afoga nos gastos com a guerra da Ucrânia. A Rússia faturou, somente desde o início do conflito, US$ 2,5 bilhões com ouro de países africanos.