Maioria das mortes em enchentes na Líbia poderia ter sido evitada, diz ONU

País registrou ao menos 5,3 mil mortes e há preocupações com milhares de desaparecidos após uma onda de sete metros atingir a costa

A ONU (Organização das Nações Unidas) declarou que a maioria das mortes decorrentes das inundações que atingiram a Líbia poderiam ter sido evitadas. Enquanto isso, os esforços humanitários estão enfrentando dificuldades devido às divisões políticas e à devastação causada pela catástrofe originada por um ciclone tropical. As informações são da rede CNN.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) relatou que pelo menos 5,3 mil pessoas perderam a vida na Líbia, e há preocupações com milhares de desaparecidos após uma onda de sete metros atingir a cidade costeira de Derna, destruindo edifícios inteiros.

A passagem da tempestade Daniel devastou o nordeste do país africano no começo desta semana. O volume expressivo de chuvas causou o colapso de duas barragens e fez com que a água se espalhasse por áreas já inundadas.

Passagem da tempestade Daniel na cidade de Derna destruiu pontes, casas e edifícios (Foto: Redes sociais/Captura de Tela)

Petteri Taalas, o secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), afirmou em entrevista coletiva em Genebra que muitas das vítimas humanas nas inundações poderiam ter sido evitadas se houvesse um serviço meteorológico operando normalmente para emitir avisos e se a gestão de emergência tivesse conseguido evacuar as pessoas a tempo.

Ele salientou que, embora não fosse possível eliminar totalmente as perdas econômicas, serviços adequados poderiam ter minimizado essas perdas. Talaas também mencionou os esforços da OMM para colaborar com as autoridades líbias na melhoria desses mecanismos, mas enfrenta dificuldade de acesso devido à complicada situação de segurança no país.

A Líbia está em turbulência desde a queda do ex-líder de longa data Muammar Gaddafi, com o país dividido entre administrações rivais e milícias em guerra, com um Governo de Acordo Nacional reconhecido pela ONU baseado na capital Trípoli e as forças do general renegado Khalifa Haftar, líder do autoproclamado Exército Nacional da Líbia contra o governo de Trípoli, que controla as áreas leste e sul da nação rica em petróleo.

Ambas as administrações apresentam números conflitantes em relação às vítimas das enchentes. As autoridades apoiadas pelo parlamento oriental falam em pelo menos 5,3 mil pessoas mortas, enquanto o governo internacionalmente reconhecido em Trípoli relata mais de seis mil vítimas fatais.

Yann Fridez, chefe da delegação do CICV na Líbia, afirmou que os moradores de Derna levarão “muitos meses, talvez anos” para se recuperarem dos extensos danos causados pela onda de sete metros que atingiu a cidade de cem mil habitantes nesta semana.

Ajuda ainda insuficiente

A Organização Internacional para as Migrações (OIM) da ONU relatou que mais de 30 mil pessoas foram deslocadas em Derna. No entanto, mesmo diante da necessidade de cuidar dos sobreviventes da catástrofe, corpos estavam se acumulando perto de instalações de saúde não mais operacionais.

Khaled Hamid, gerente geral de uma ONG líbia, expressou preocupação com a insuficiência das doações de ajuda em relação ao grande número de pessoas que precisavam de tratamento. Ele mencionou que, inicialmente, arrecadar dinheiro e receber doações de equipamentos, tanto interna quanto externamente, foi relativamente fácil. Hamid enfatizou a gratidão pela generosidade das pessoas que apoiaram a causa, mas disse que “é uma gota no oceano das necessidades que precisamos para Derna”.

Nesta quinta-feira (14), o porto marítimo de Derna foi reaberto para navios com um calado mínimo – medida da profundidade da água necessária para que uma embarcação possa navegar com segurança sem encalhar – de 6,5 metros, permitindo a entrega de ajuda humanitária à região gravemente afetada, conforme informou a Autoridade Portuária e de Transporte Marítimo da Líbia.

A Arábia Saudita anunciou o envio de alimentos e abrigo por meio da agência de ajuda saudita KS Relief, em coordenação com o Crescente Vermelho Líbio e outros grupos de ajuda.

A União Europeia (UE) comprometeu-se a fornecer pessoal médico, equipamento, barcos de resgate, helicópteros e outras formas essenciais de assistência, após liberar 537 mil dólares em financiamento humanitário.

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