Mercenários russos promovem abusos na República Centro-Africana, alerta ONU

Mercenários seriam do Wagner Group, empresa de mercenários citada em violações em países como Líbia, Síria e Ucrânia

Analistas independentes da ONU (Organização das Nações Unidas) alertaram sobre violações cometidas por mercenários russos na República Centro-Africana. As denúncias constam em um relatório divulgado nesta quarta (31).

Os mercenários russos seriam do Wagner Group, empresa privada de mercenários suspeita de violações também na Líbia, na Síria e na Ucrânia. Os abusos teriam ocorrido quando o grupo lutava ao lado das forças governamentais, na sequência das eleições de dezembro.

A segurança no país é instável desde a reeleição do presidente Faustin-Archange Touadéra. Em janeiro, facções rebeldes tentaram tomar a capital, Bangui, e ataques se seguiram desde então em diversas regiões do país.

Mercenários russos promovem abusos na República Centro-Africana, alerta ONU
Rebeldes do norte da República Centro-Africana em registro de junho de 2007 (Foto: Divulgação/hdptcar)

Conforme o relatório, os contratados russos trabalham em estreita colaboração com 15 mil membros da missão de manutenção da paz da ONU, que opera no país africano desde 2014. Relatos apontam para reuniões regulares entre funcionários das Nações Unidas e “conselheiros russos”.

“A indefinição dos limites entre as operações civis, militares e de manutenção da paz durante as hostilidades gera confusão sobre os alvos legítimos e aumenta os riscos de abusos generalizados dos direitos humanos”, alertou a relatora do grupo de especialistas, Jelena Aparac.

As supostas violações dos mercenários envolvem execuções sumárias em massa, detenções arbitrárias, tortura em interrogatórios e deslocamento forçado da população civil. Estimativas apontam que cerca de 240 mil civis deixaram suas casas desde o final do ano passado.

Quem são os financiadores

Os mercenários russos estariam ligados ao oligarca Yevgeny Prigozhin, próximo do presidente Vladimir Putin. Washington aponta que Prigozhin financia o Wagner Group e já ofereceu uma recompensa de US$ 250 mil por informações que levem ao seu paradeiro.

Desde a deposição do ex-presidente François Bozizé em 2013, por uma coalizão rebelde de muçulmanos, a República Centro-Africana vive conflitos interreligiosos e interétnicos. Desde 2018 Moscou ativou seu mecanismo de treinamento militar para o país africano e o Kremlin enviou instrutores para “auxiliar as milícias e forças locais”.

Informações apontam que os integrantes estão na capital centro-africana, Bangui, e garantem proteção às elites políticas locais. Eles também colaborariam com “mercenários ruandeses”, que têm participação cada vez mais ativa no conflito.

O benefício na troca tende a ser o lucro econômico. Como o país africano é rico em recursos naturais – ouro, diamante, urânio e tipos raros de madeira –, Moscou sai na frente de concorrentes como a França para obtê-los apoiando o governo local com armas e estratégias militares.

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