Os conflitos gerados por grupos armados após as eleições de 27 de dezembro na República Centro-Africana já forçaram o deslocamento de mais de 200 mil cidadãos para fora do país.
Segundo a Acnur (Agência das Nações Unidas para Refugiados), cerca de 92 mil fugiram para a vizinha República Democrática do Congo. Outros 13 mil cruzaram as fronteiras em direção a Camarões, Chade e Congo.
O restante está sem abrigo dentro do próprio país. “Refugiados contam que fugiram ao ouvir os tiros e deixaram todos os seus pertences para trás”, relatou o porta-voz Boris Cheshirkov na sexta (29).
Os confrontos começaram dias antes da eleição, em dezembro, quando o Tribunal Constitucional do país barrou a candidatura do ex-presidente François Bozizé ao pleito. A confirmação da reeleição de Faustin-Archange Touadéra acelerou os conflitos.
Desde então, o Exército nacional, apoiado pelas tropas da ONU (Organização das Nações Unidas) e por países como Rússia e Ruanda, tenta conter uma coalizão de milícias. Os rebeldes reivindicam um novo pleito e alegam irregularidades.
Os ataques dificultam o acesso humanitário e muitos dos deslocados já apelam para prostituição em troca de alimentos. Enquanto isso, doenças como a malária, infecções respiratórias e diarreia se tornaram comuns, alertou a Acnur.
“Situação apocalíptica”, diz ex-premiê
Em entrevista à Reuters por telefone, o ex-primeiro-ministro Martin Ziguele, derrotado nas eleições, relatou que conflitos em toda a República Centro-Africana estão impedindo o movimento entre as cidades.
“Não posso deixar [a capital] Bangui e andar 90 quilômetros sem escolta armada, imagine a população”, disse. “Adicione o toque de recolher e o estado de emergência e há uma situação apocalíptica”.
Na sexta (29), o órgão regional Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos pediu que as partes negociem um cessar-fogo e que grupos armados deixem Bangui.
O grupo também pediu que o Conselho de Segurança da ONU levante o embargo de armas imposto ao país. A cláusula restringe o fluxo de armas para o Exército do país, de cinco milhões de habitantes, desde a guerra civil de 2013.