Militares do Chade nomeiam novo governo e oposição protesta

Novo governo é capitaneado pelo filho do ditador Idriss Déby, morto em abril, e militares; Parlamento foi dissolvido

Os militares à frente do Chade após a morte do ditador Idriss Déby, no último dia 20, nomearam um novo governo neste domingo (2). A oposição do país classificou os novos membros como uma “continuação” da velha ordem deixada por Déby, que ocupou o poder por 30 anos, reportou a Reuters.

A maioria dos ministros do novo governo já ocupava cargos no gabinete do ex-presidente, enquanto o filho de Déby, Mahamat Déby, assumiu o posto de chefe de Estado. Seu aliado, Albert Pahimi Padacke, passou para o cargo de primeiro-ministro. O Parlamento foi dissolvido.

Milhares já foram às ruas em protesto contra o regime militar e pelo menos seis civis morreram em confronto com a polícia. No lugar do pai, Mahamat prometeu realizar eleições em um ano e meio e angariou o apoio da França, ex-metrópole colonial.

Miliares do Chade nomeiam novo governo e oposição protesta
O presidente do Chade Idriss Déby, morto em 20 de abril de 2021, em conferência comercial em Londres, fevereiro de 2021 (Foto: Divulgação/Commonwealth Office)

A oposição e os rebeldes defendem que a morte do presidente abriu espaço para um golpe e há pressão para que os militares deixem o poder para um governo liderado por civis. A expectativa de analistas é que os militares no Chade aceitem no máximo um presidente civil e um vice-presidente militar, embora a Constituição chadiana estipule um presidente civil em caso de morte.

O presidente foi morto durante ofensiva contra os rebeldes que cruzaram a fronteira com a Líbia no dia 11, data das eleições que conduziram o ditador ao sexto mandato. Comunicados oficiais dizem que Déby morreu como um “mártir” na linha de frente dos confrontos contra os rebeldes, versão questionada pela comunidade internacional.

Possíveis consequências

A tomada de poder pelos militares e o não cumprimento da Constituição do país devem trazer consequências a longo prazo para o governo do Chade, seus vizinhos e apoiadores, avalia o think tank norte-americano Council of Foreign Relations.

Militares da região terão menos atenção para se dedicar aos esforços de combater as ameaças terroristas transnacionais, já que Idriss Déby era um dos principais aliados das forças ocidentais – sobretudo da França – no combate a grupos jihadistas na África.

“Da mesma forma, a rejeição da Constituição do Chade pode ser uma má notícia para a frágil transição do Sudão. Aspirantes a democratas devem se sentir cada vez mais solitários, à medida que muitos Estados vizinhos se movem em uma direção autoritária, aponta o relatório.

A instabilidade política, localizado no Sahel africano, também serve como um lembrete de que nenhum líder é um “elemento permanente” no cenário mundial. “É fácil para os formuladores de políticas esquecer que as barganhas que fazem em nome da garantia da estabilidade – ou influência regional – podem ter vidas úteis mais curtas do que o previsto quando dependem da capacidade de um homem forte para manter todas as forças opostas sob controle”, pontuou o relatório.

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