No Sudão do Sul, presidente Salva Kiir dissolve Parlamento

Dissolução está prevista no acordo de paz de 2018, mas oposição duvida de um retorno à normalidade institucional

O presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, dissolveu o Parlamento do país no último sábado (8), confirmou o jornal queniano “Nation”. Conforme Kiir, a decisão deve abrir caminho para a nomeação de legisladores da oposição, mas o presidente não informou quando o Legislativo voltará a funcionar.

A chamada de parlamentares de lados opostos tem base no acordo de paz sul-sudanês assinado em 2018 após cinco de guerra civil. À época, Kiir e o vice-presidente Riek Machar, líder da oposição, concordaram em dissolver o Parlamento e inaugurar uma nova assembleia de 550 legisladores – sendo 332 do partido do presidente.

A oposição aguarda o desmembramento desde então e já reclamou da demora em implantar o acordo. O sentimento agora, porém, reúne um misto de expectativa e desconfiança.

No Sudão do Sul, presidente Salva Kiir dissolve parlamento
O presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, em encontro em Ruanda, outubro de 2013 (Foto: Divulgação/Paul Kagame)

“A sociedade já está frustrada e não acredita mais que o parlamento será viável, mesmo depois de reconstituído”, relatou o presidente da Sociedade Civil do Sudão do Sul, Jame Kolock. Na nova formação, os parlamentares não serão eleitos, mas indicados pelos partidos.

O governo de coalizão só foi formado em fevereiro de 2020, após quase um ano de atraso. Mesmo assim, poucas cláusulas da trégua funcionam na prática e analistas já alertam para um retorno à guerra.

O fechamento do Parlamento ocorreu na véspera da visita do enviado especial dos EUA ao país, Donald Booth, à capital Juba. Washington foi o principal facilitador da independência do país, em 2011, e forneceu apoio diplomático e ajuda humanitária ao país.

Em abril, o Departamento de Estado norte-americano alertou sobre violência contínua e a piora das condições humanitárias em meio a lenta implementação do acordo – após os conflitos que mataram 380 mil pessoas e forçaram o deslocamento de outras quatro milhões.

A guerra sul-sudanesa

Rico em petróleo, o Sudão do Sul continua refém da má administração e, apesar do acordo de paz, os conflitos interétnicos continuam – na maioria das vezes causados pelo roubo de animais no campo. Os confrontos deixaram mais de mil mortos só no último semestre de 2020.

Os conflitos entre comunidades étnicas está no cerne da guerra civil do Sudão do Sul, aponta o think tank Council of Foreign Relations. A disputa começou em dezembro de 2013, após uma luta política entre Kiir e Machar, que terminou na destituição do vice-presidente.

O confronto respingou no Exército sul-sudanês e nos dois maiores grupos étnicos do país: soldados da etnia Dinka, alinhados a Kiir, se voltaram contra os soldados Nuer, que apoiavam Machar, e a violência se espalhou rapidamente pelo território, recém-independente.

A destruição deixada pelos grupos impediu o plantio pelos pequenos agricultores, o que causou uma grave escassez de alimentos em todo o país. Em 2014 e em 2018, o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), classificou a crise alimentar no Sudão do Sul como a mais grave do mundo.

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