ONU documenta tortura generalizada e violência sexual em áreas de conflito na RD Congo

Relatório das Nações Unidas confirma mais de 4 mil casos de violência associadas ao tratamento desumano ou degradante

A grande maioria dos casos de tortura na República Democrática do Congo ocorre em áreas afetadas por conflitos, onde a impunidade é generalizada. É o que aponta um relatório divulgado na quarta-feira (5) pela ONU (Organização das Nações Unidas). O documento, produzido pelo Escritório Conjunto de Direitos Humanos da ONU e pela Missão das Nações Unidas no país (Monusco), cobre o período de três anos até abril de 2022. 

De acordo com o relatório, foram confirmados pelo menos 93% dos 3.618 casos registrados de tortura, tratamento cruel, desumano ou degradante em 4.946 vítimas vivendo em áreas afetadas por conflitos armados. Desse total, 492 estão relacionados à violência sexual, afetando 761 vítimas. 

A ONU destaca que membros das forças de defesa e segurança foram responsáveis por 1.293 casos. Outros 1.833 foram atribuídos a integrantes de grupos armados. Algumas vezes, a atuação ocorreu de forma isolada, mas em certos contextos houve tortura de vítimas de maneira combinada com membros das forças de segurança. 

Criança observa soldado da Monusco da RD Congo (Foto: Monusci/Abel Kavanagh)

Vários episódios de tortura e maus-tratos ocorreram enquanto as vítimas exerciam seus direitos fundamentais, como liberdade de expressão e reunião pacífica, ou enquanto estavam detidas. 

Uma das constatações do relatório é a de que “a violência infligida na administração da justiça, na restrição do espaço democrático ou nos locais de detenção ilustra o caráter generalizado da tortura, que progride em um contexto de relativa impunidade”. A realidade acontece num contexto em que se registram poucas denúncias contra supostos autores de tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanas ou degradantes. 

Problema e magnitude  

De acordo com o levantamento, a situação contribui para que o problema da tortura seja subestimado e não haja clareza sobre a magnitude. Apesar da dimensão das violações e abusos cometidos durante o período analisado pelo relatório, apenas dois oficiais do exército, 12 policiais nacionais e 75 membros de grupos armados foram condenados.  

O relatório aponta que a impunidade promove a continuação da prática e do receio da população em relação aos agentes da lei e ao sistema de justiça.  

Em reação aos dados, a subsecretária-geral e chefe da Monusco, Bintou Keita, disse que a operação de paz continua apoiando o governo em seus esforços para prevenir e combater a tortura. 

A enviada destacou que “as comissões de monitoramento de violações de direitos humanos atribuíveis ao exército e à polícia nacional, criadas pelas autoridades nacionais e apoiadas pela Monusco, demonstraram sua utilidade ao apoiar a formação nesta área e garantir o acompanhamento dos casos.”  

Keita ressaltou não haver qualquer justificativa para a tortura, independentemente das circunstâncias ou do contexto em que ocorrer. 

A alta comissária interina para os direitos humanos Nada Al-Nashif apelou às autoridades locais para que atuem com urgência e determinação para acabar com o que chamou de “flagelo” da tortura. E disse que há muito a ser feito para prevenir, erradicar e fazer chegar o tipo de casos aos tribunais no país com base no Protocolo Adicional à Convenção contra a Tortura. 

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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