RD Congo acusa Ruanda de apoiar milícia e de enviar tropas ao outro lado da fronteira

Tensão entre os dois países aumenta em meio ao ressurgimento do M23, movimento armado adormecido há mais de uma década

A República Democrática do Congo (RDC) acusa o governo vizinho de Ruanda de enviar cerca de 500 militares das forças especiais para uma operação do outro lado da fronteira, num incidente que piora as já complicadas relações entre os dois países da África Central.

A escalada da tensão deve-se sobretudo ao ressurgimento do grupo M23 (Movimento 23 de Março), milícia armada que em 2012 fez oposição ao governo congolês e gerou um violento conflito, forçando o deslocamento de milhares de pessoas na província Kivu do Norte.

No final daquele ano, o grupo chegou a assumir o controle da capital nacional, Goma, mas recuou depois de o governo congolês aceitar abrir negociações.

Soldados do M23, movimento armado da RD Congo, em foto de 2012 (Foto: Wikimedia Commons)

O M23 ressurgiu no início deste anos e voltou a confrontar as forças de segurança nacionais. É suspeito, inclusive, de envolvimento na queda de um helicóptero que matou oito integrantes da Monusco (missão de paz da ONU na RD Congo) no dia 28 de março.

A aeronave transportava seis boinas-azuis do Paquistão, um da Rússia e outro da Sérvia e desapareceu na região de Kivu Norte, enquanto fazia uma missão de reconhecimento perto da fronteira com Uganda e Ruanda. O local da queda havia sido palco de confrontos entre forças congolesas e o M23 dias antes. 

Ocorre que o governo da RDC acusa Ruanda de apoiar os rebeldes, alegando inclusive que dois soldados ruandeses foram detidos do lado congolês da fronteira recentemente.

“Ruanda mudou o uniforme de seus soldados para esconder sua presença em território congolês ao lado dos terroristas do M23”, afirmou o general Sylvain Ekenge, porta-voz do exército da RDC. Segundo ele, o governo vizinho enviou 500 soldados a Kivu do Norte “vestidos com uniformes em verde e preto”.

O porta-voz do exército ruandês, coronel Ronald Rwivanga, classificou as acusações como “rumores”. Yolande Makolo, porta-voz do governo de Ruanda, seguiu pelo mesmo caminho: “Não temos interesse em uma crise e não responderemos a acusações infundadas”, disse ela.

As relações entre os dois países são ruins desde que a RD Congo recebeu, em sua porção leste, muitos hutus ruandeses acusados de participar do genocídios dos tutsis em 1994.

Por que isso importa?

O M23 era inicialmente uma milícia formada por tutsis da RD Congo e então apoiada pelos governos de Ruanda e Uganda. Em 23 de março de 2009, a milícia assinou um acordo de paz com o governo congolês e acabou incorporada ao exército nacional.

Entretanto, em 2012, os rebeldes se ergueram novamente contra o governo, acusado de não cumprir sua parte no acordo assinado três anos antes. Nasceu, assim, o M23, em referência à data em que foi firmado o controverso pacto.

A tensão entre a milícia e o exército chegou ao ápice em novembro daquele ano, quando o M23 assumiu o comando de Goma. Porém, o grupo aceitou um novo acordo de paz, estabelecendo-se um cessar-fogo.

Neste ano, o M23 reergueu suas armas, a ponto de o Conselho de Segurança da ONU afirmar que a milícia é uma “séria ameaça à paz, segurança e estabilidade na região”.

“É imperativo que este Conselho dê todo o seu peso aos esforços regionais em andamento para neutralizar a situação e acabar com a insurgência do M23, de uma vez por todas”, disse Martha Pobee, secretária-geral adjunta para assuntos políticos e operações de paz da ONU na África.

De acordo com Pobee, os civis estão pagando um alto preço pela violência, com relatos de 75 mil pessoas deslocadas em combates no final de maio em Kivu do Norte, sendo que mais de 11 mil cruzaram a fronteira para Uganda.

A ONU e os principais parceiros regionais e internacionais pediram unanimemente que o M23 deponha suas armas e se junte ao processo de desarmamento e desmobilização de combatentes.

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