Quase um milhão de moçambicanos fugiram da violência no norte do país

Dados da Agência da ONU para Refugiados apontam que número segue aumentando após cinco anos de conflito em Cabo Delgado

O porta-voz da Agência da ONU para Refugiados (Acnur), Matthew Saltmarsh, afirmou que a violência em Cabo Delgado, no norte do Moçambique, já forçou quase um milhão de pessoas a fugir nos últimos cinco anos. Ele falou a jornalistas na sede das Nações Unidas em Genebra na terça-feira (4).

Segundo Saltmarsh, com a continuação do conflito e os ataques de grupos rebeldes armados, milhares de famílias ainda estão sendo forçadas a deixar suas casas.

O representante da Acnur pediu o fim da violência e o “apoio sustentável” da comunidade internacional para reduzir o sofrimento da população deslocada e das comunidades locais de acolhimento no norte de Moçambique.

Segundo Saltmarsh, a violência e o deslocamento tiveram um impacto arrasador sobre a população. As pessoas testemunharam familiares sendo mortos, decapitados e sofrendo violência sexual, bem como suas casas e outras infraestruturas sendo queimadas.

Pessoas deslocadas aguardando distribuição de alimento em Cabo Delgado (Foto: PMA/Falume Bachir)

Ainda há relatos de homens e meninos que foram obrigados a fazer parte de grupos armados. O porta-voz adicionou que os meios de subsistência foram perdidos e a educação paralisada. Além disso, o acesso a alimentação e saúde foi dificultado.

De acordo com Saltmarsh, muitas pessoas foram novamente traumatizadas depois de serem forçadas a se mudar várias vezes para salvar suas vidas.

Cabo Delgado

Os dados da Acnur apontam que, após cinco anos de violência, a situação humanitária em Cabo Delgado continuou a se agravar e os números de deslocados aumentaram 20%. O total chegou a 946.508 no primeiro semestre deste ano.

O conflito já se espalhou para a província vizinha de Nampula, que testemunhou quatro ataques de grupos armados em setembro. A situação afetou pelo menos 47 mil pessoas e deslocou 12 mil.

De acordo com a Acnur, as pessoas desalojadas durante os últimos ataques afirmam estar “com medo e com fome”. Eles não têm remédios e vivem em condições de superlotação, com quatro a cinco famílias dividindo uma casa.

A agência da ONU tem respondido às necessidades das populações deslocadas nas províncias de Cabo Delgado, Nampula e Niassa com assistência humanitária e apoio de proteção. Apesar do deslocamento contínuo em Cabo Delgado, algumas pessoas voltaram para suas casas em áreas que consideram seguras.

Financiamento

No mês passado, a Acnur e parceiros realizaram a primeira missão de avaliação de proteção a Palma, no extremo nordeste do país. Palma teve ataques em março de 2021, o que resultou no deslocamento da maioria das 70 mil pessoas do distrito.

Segundo a agência, a maioria voltou nas últimas semanas. As pessoas estão retornando para áreas onde os serviços e a assistência humanitária da ONU e seus parceiros estão indisponíveis. Assim, a Acnur está preocupada com os riscos que as pessoas enfrentam caso continuem a retornar às suas áreas de origem antes que as condições se estabilizem.

O escritório considera as condições de segurança muito voláteis em Cabo Delgado para facilitar ou promover o regresso à província. No entanto, as crescentes necessidades de proteção e serviços limitados para aqueles que optaram por voltar para casa ainda devem ser abordados com urgência pelas partes interessadas relevantes, incluindo autoridades e atores humanitários.

Segundo o porta-voz, em setembro de 2022, apenas 60% dos US$ 36,7 milhões necessários para a Acnur fornecer serviços de proteção foram financiados.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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