RD Congo diz que mais de cem pessoas morreram em ‘massacre’ atribuído a rebeldes

Governo acusa o grupo rebelde armado M23 de matar civis no leste do país e decreta luto nacional de três dias devido ao ataque

O governo da República Democrática do Congo acusa os rebeldes do grupo armado M23 (Movimento 23 de Março) de matar “mais de cem” civis no leste do país. No sábado (3), foi decretado luto nacional de três dias devido ao suposto episódio de violência, de acordo com o site The Defense Post.

A denúncia partiu do presidente Felix Tshisekedi, que “condenou nos termos mais fortes o massacre de mais de cem compatriotas em Kishishe”, disse o porta-voz do governo Patrick Muyaya.

Kishishe é um vilarejo a cerca de 70 quilômetros da cidade de Goma, capital da província de Kivu do Norte, onde o M23 marca forte presença.

Tshisekedi também disse que “pediu ao ministro da Justiça que abra sem demora uma investigação interna e, ao mesmo tempo, trabalhe por uma investigação internacional para esclarecer esse crime de guerra”.

Por sua vez, os rebeldes negaram envolvimento e classificaram as acusações como “infundadas”.

Soldados do M23, movimento armado da RD Congo, em foto de 2012 (Foto: Wikimedia Commons)
Por que isso importa?

O M23 era inicialmente uma milícia formada por tutsis da RD Congo e então apoiada pelos governos de Ruanda e Uganda. Em 23 de março de 2009, a milícia assinou um acordo de paz com o governo congolês e acabou incorporada ao exército nacional.

Entretanto, em 2012, os rebeldes se ergueram novamente contra o governo, acusado de não cumprir sua parte no acordo assinado três anos antes. Nasceu, assim, o M23, em referência à data em que foi firmado o controverso pacto.

A tensão entre a milícia e o exército chegou ao ápice em novembro daquele ano, quando o M23 assumiu o comando da cidade de Goma, no leste congolês. Porém, o grupo aceitou um novo acordo de paz, estabelecendo-se um cessar-fogo.

No final de 2021, o M23 reergueu suas armas e retomou os confrontos com o governo central, a ponto de o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) afirmar que a milícia é uma “séria ameaça à paz, segurança e estabilidade na região”.

O M23 é suspeito, inclusive, de envolvimento na queda de um helicóptero que matou oito integrantes da Monusco, a missão de paz da ONU na RD Congo, no dia 28 de março. A aeronave transportava seis boinas-azuis do Paquistão, um da Rússia e outro da Sérvia e desapareceu enquanto fazia uma missão de reconhecimento perto da fronteira com Uganda e Ruanda. 

“É imperativo que este Conselho dê todo o seu peso aos esforços regionais em andamento para neutralizar a situação e acabar com a insurgência do M23, de uma vez por todas”, disse Martha Pobee, secretária-geral adjunta para assuntos políticos e operações de paz da ONU na África.

De acordo com Pobee, os civis estão pagando um alto preço pela violência, com relatos de 75 mil pessoas deslocadas em combates no final de maio em Kivu do Norte, sendo que mais de 11 mil cruzaram a fronteira para Uganda.

A ONU e os principais parceiros regionais e internacionais pedem unanimemente que o M23 deponha suas armas e se junte ao processo de desarmamento e desmobilização de combatentes. O governo congolês acusa Ruanda de oferecer apoio aos rebeldes, suspeita compartilhada por algumas nações estrangeiras.

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