Rebeldes apoiados por Ruanda entraram na cidade de Goma, no leste da República Democrática do Congo, na segunda-feira (27), segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). O avanço do M23, uma aliança rebelde liderada por membros da etnia tutsi, marca a pior escalada de um conflito que já dura mais de uma década. A informação é da agência Reuters.
A cidade, que abriga mais de dois milhões de pessoas e é um importante centro para organizações humanitárias, foi ocupada pela última vez pelo M23 em 2012. Corneille Nangaa, líder da aliança Congo River, que inclui o M23, disse que os rebeldes estão no controle de Goma, declaração que não pôde ser verificada de forma independente, já que a situação na cidade permanece incerta.
Enquanto explosões e disparos ecoavam pela cidade, o ministro de Desenvolvimento Rural do Congo, Muhindo Nzangi, afirmou que as forças congolesas controlam 80% de Goma. Em contraste, outras fontes oficiais disseram que os rebeldes já dominam 90% da área.

“Há focos de resistência, mas até nossas tropas estão sob forte ataque, tanto no aeroporto quanto em nossa base de manutenção da paz”, afirmou uma fonte da ONU.
O M23 declarou ter tomado os escritórios da emissora estatal congolesa em Goma, o que foi confirmado por dois funcionários. Relatos também indicam a presença de soldados em uniformes recém-adquiridos do exército ruandês, segundo moradores locais.
“Às 18h, saí para ver o que estava acontecendo e vi soldados com uniformes novos de Ruanda”, disse um residente do centro da cidade.
Vítimas civis
A ONU e o governo congolês acusaram Ruanda de enviar tropas para apoiar o M23. Kigali nega e ainda afirma que bombardeios congoleses atingiram seu território, matando cinco pessoas e ferindo outras 26 na cidade fronteiriça de Rubavu.
A violência já deixou vítimas civis, incluindo recém-nascidos e gestantes, após bombardeios atingirem um hospital de maternidade, de acordo com o chefe de manutenção da paz da ONU, Jean-Pierre Lacroix. “Não há dúvida de que há tropas ruandesas em Goma apoiando o M23”, afirmou.
Além disso, a chegada dos rebeldes gerou caos em Goma, com vídeos nas redes sociais mostrando saques e uma fuga em massa de prisioneiros da principal penitenciária da cidade. A ONG Save the Children alertou para o risco de uma nova crise humanitária, já que a cidade é um refúgio para centenas de milhares de deslocados.
Diplomatas confirmaram uma nova reunião do Conselho de Segurança da ONU para esta terça-feira (28), após um pedido do governo congolês. Kinshasa exige sanções contra Ruanda e a retirada imediata de suas tropas.
Conforme os confrontos prosseguem, Nangaa indica que o M23 pretende avançar mais. “Nosso objetivo não é Goma nem Bukavu, mas Kinshasa, a fonte de todos os problemas”, disse em entrevista recente, referindo-se à capital congolesa, a mais de 1,5 mil quilômetros de distância.
Por que isso importa?
O M23 era inicialmente uma milícia formada por tutsis da RD Congo e então apoiada pelos governos de Ruanda e Uganda. Em 2009, a milícia assinou um acordo de paz com o governo congolês e acabou incorporada ao exército nacional, mas se rebelou novamente em 2021. O Conselho de Segurança da ONU chegou a afirmar que o grupo é uma “séria ameaça à paz, segurança e estabilidade na região”.
Os rebeldes do M23 são suspeitos inclusive de envolvimento na queda de um helicóptero que matou oito integrantes da Monusco, a missão de paz da ONU na RD Congo, em março de 2022. A aeronave transportava seis boinas-azuis do Paquistão, um da Rússia e outro da Sérvia e desapareceu enquanto fazia uma missão de reconhecimento perto da fronteira com Uganda e Ruanda.