Relatório aponta mais de 500 vítimas de violência no Mali no segundo semestre

Documento aponta que, entre abril e junho, pelo menos 527 civis foram mortos, feridos ou raptados

Em relatório trimestral divulgado nesta segunda-feira (30), a Minusma (Missão de Estabilização Integrada Multidimensional da ONU) manifestou preocupação com a crescente violência resultante do avanço de grupos rebeldes no sul do Mali. O documento indica que mais de 500 civis foram vítimas de violência no país no segundo semestre deste ano, um aumento alarmante em relação ao período anterior.

“Entre abril e junho, pelo menos 527 civis foram mortos, feridos ou raptados, um aumento global de mais de 25% em comparação com o primeiro trimestre (421)”, sendo a maior parte no centro do país, de acordo com o relatório.

No documento, referente aos meses de abril, maio e junho, a divisão de direitos humanos da Minusma apontou também que, através dos “ditos acordos de não-agressão ou reconciliação”, os rebeldes estão impondo sua visão extrema das leis do Islã em determinadas áreas do centro do país.

Equipe da Minusma na aldeia de Sobane Da, em investigação de ataque que matou dezenas de civis em 2019 (Foto: ONU/Reprodução)

O texto ainda ponta que a maioria dos incidentes violentos contra civis foi perpetrada pela coalizão Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (que integra as principais organizações jihadistas na região do Sahel), o Estado Islâmico no Grande Saara (EI-GS) e outros grupos semelhantes, que mataram, feriram ou raptaram 54% das vítimas registradas em todo o país.

Por outro lado, milícias e grupos comunitários de resistência são responsáveis por 20% dos abusos. Já o Exército maliano e as forças internacionais são responsáveis por 9% e 6%, respetivamente, do número total de abusos contra civis, revela o estudo.

Segundo a agência France Presse (AFP), em notícia repercutida no portal português Noticias ao Minuto, o levantamento da Minusma ainda registrou 156 raptos atribuídos a ‘jihadistas’, visando em particular “pessoas consideradas ou suspeitas de serem informantes ou próximos das forças malianas e/ou internacionais”.

O documento alertou que o domínio territorial do GSIM “aumentou no centro do Mali, com uma notável mudança nas suas atividades em Ségou e Sikasso, junto à fronteira com o Burkina Faso“.

Impostos e assédio

Os habitantes das zonas controladas por estes grupos ou que tenham celebrado acordos com eles “sofreram certamente menos ataques físicos”, mas estão sujeitos ao pagamento de um “imposto sobre o gado, empresas e culturas” e as mulheres têm a obrigação de utilizar um véu, sob pena de serem açoitadas, acrescentou o documento da ONU (Organização das Nações Unidas).

Por que isso importa?

A instabilidade no Mali começou com o golpe de Estado em 2012, quando vários grupos rebeldes e extremistas tomaram o poder no norte do país durante dez meses. De quebra, a nação, independente desde 1960, viveu em agosto do ano passado o quarto golpe militar na sua história.

Os confrontos recentes ainda acontecem em meio ao processo de redução das tropas francesas do oeste do Sahel africano, por ordem do presidente Emmanuel Macron. A Operação Barkhane teve início em 2013, e desde então 55 soldados franceses morreram em combate ou ataques terroristas. Atualmente, 5,1 mil militares do país estão ativos por lá. 

Especialistas e políticos ocidentais enxergam uma geopolítica delicada na região, devido ao aumento constante da influência de grupos jihadistas. Além disso, trata-se de uma posição importante para traficantes de armas e pessoas. A retirada das tropas de Macron tende a aumentar a violência.

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