Sob pressão, militares ganham apoio da oposição e avaliam futuro político da Guiné

Coronel Mamady Doumbouya avalia as possibilidades políticas para o país, entre elas a de uma nova eleição democrática

Com o apoio dos líderes da oposição política nacional, a junta militar que assumiu o governo da Guiné no golpe de Estado do dia 5 de setembro começa a debater o futuro do país. Sob pressão dos mediadores locais e da opinião pública internacional, o coronel Mamady Doumbouya avalia as possibilidades, entre elas a de uma nova eleição democrática. As informações são da agência Associated Press.

A oposição se manifestou a favor do golpe na terça-feira (14), durante uma cúpula de governo para debater os próximos passos da transição política. No início do mês, os militares prenderam o ex-presidente Alpha Condé em função de uma manobra política que ampliou o próprio governo para um terceiro mandato, gerando intensos protestos populares no final do ano passado.

Coronel Mamady Doumbouya, líder da junta militar que comanda a Guiné desde o golpe de 5 de setembro (Foto: reprodução/Twitter)

Para os oposicionistas, a própria manobra de Condé foi um golpe de Estado, o que serviria de justificativa para apoiar a ação dos militares. “Isso não foi legal, você sabe. É por isso que tivemos um golpe militar, para impedir o golpe institucional e constitucional”, disse Ousmane Kaba, líder do partido opositor Democratas pela Esperança. “E eu acho que a comunidade internacional deveria nos ajudar, deveria ajudar a Guiné a ter uma boa transição”.

Internacionalmente, porém, a verdade é que o golpe não foi bem recebido. Mesmo os vizinhos africanos contestam a deposição de Condé. O Ecowas, bloco que engloba nações da África Ocidental, ameaça punir a Guiné com sanções econômicas caso o ex-presidente não seja libertado.

Algo semelhante aconteceu no Mali em agosto do ano passado, igualmente após um golpe de Estado que colocou os militares no poder. O bloco concedeu um ano para que a junta malinesa realizasse novas eleições democráticas, sob risco de sanção. Posteriormente, ampliou esse prazo para 18 meses, o que não impediu o coronel Assimi Goita de aplicar um segundo golpe, em maio deste ano, quando efetivamente assumiu o poder.

Por que isso importa?

A polêmica reeleição de Alpha Condé, anunciada em outubro do ano passado após seis dias de contagem de votos, desencadeou uma onda de protestos em todo o país. O presidente iniciou, então, um terceiro mandato após a vitória no pleito, com alegados 59,5% dos votos.

Os protestos, no entanto, se intensificam no país da África Ocidental, de pouco mais de 12 milhões de habitantes. De acordo com a Anistia Internacional, as forças de segurança do país teriam disparado contra manifestantes durante protestos após as eleições. Foram registradas oficialmente dez mortes, embora a oposição fale em 27

Há evidências de que a polícia atirou em diversos manifestantes desarmados, à queima-roupa, durante protestos pacíficos. O governo também teria interrompido as redes de internet no país durante as ondas de violência.

O principal adversário de Condé, Cellou Dalein Diallo, ameaçou inflar manifestações violentas contra Condé depois de anunciar a própria vitória. O então candidato sempre afirmou ter evidências de fraude e prometeu, à época, que brigaria pela vitória no Tribunal Constitucional.

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