por Julia Possa
Os protestos contra a violência policial terminaram com 12 mortos na madrugada desta quarta (21), em Lagos, a maior cidade da Nigéria. “Lagos sangra”, registrou a manchete do portal loca The Build no final da noite de desta terça (20).
O número de mortos foi registrado pela Anistia Internacional, já que o governo não confirma as mortes. Cerca de 25 pessoas tenham ficado feridas, apontou a BBC. Os protestos acontecem desde o dia 11.
Em entrevista à A Referência, o jornalista nigeriano Babatunde Adeola Novieku, do portal My Nigeria, descreveu a situação do local como um completo caos. “As ruas estão desertas”, disse o repórter, que vive em Lagos.
O toque de recolher está estabelecido e Lagos está vazia nesta quarta (21). “Todos foram avisados para ficar em casa e há muito medo de sair na rua”.
“Ninguém quer deixar a sua família. O que começou como uma chama de esperança para encerrar as execuções extrajudiciais e a perseguição policial, acabou em ainda mais medo. Todos estamos com medo agora”, relatou.
Segundo o jornalista, todos sabem das mortes na cidade, de cerca de oito milhões de habitantes. “Ainda que o governo diga que ninguém morreu, sabemos que é mentira”, relata Babatunde. “Pelo menos sete pessoas morreram no confronto de ontem e outras cinco desde domingo”.
Truculência em Lekki
Foi o desafio ao toque de recolher que desencadeou o tumulto nesta terça (20), quando manifestantes reuniram-se em um pedágio na área de Lekki, na região leste de Lagos.
Um dos manifestantes afirmou que soldados começaram a atirar diretamente contra os ativistas no protesto, que até ali corria de forma pacífica. “Eles estavam atirando na multidão. Eu vi balas atingirem uma ou duas pessoas”, disse o ativista Alfred Ononugbo à Reuters.
Os protestos acontecem há duas semanas e foram o principal motivo para a diluição do batalhão SARS (Esquadrão Antirroubo Especial). Os agentes da brigada, criada para combater casos de roubos e assaltos, são acusados de assédio, prisões ilegais, tortura e assassinato.
Nesta quarta (21), o presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, pediu que a população “mantenha a paz e tenha paciência” enquanto as reformas policiais “ganham força”.
“A dissolução do SARS foi o primeiro passo em um conjunto de reformas sobre o sistema policial responsável pelo povo nigeriano”, disse, em nota.