Somália diz que matou terrorista procurado pelos EUA e alvo de recompensa milionária

Maalim Ayman, contra quem havia um prêmio de US$ 10 milhões, foi morto em operação com apoio aéreo norte-americano

Os governos da Somália e dos EUA, aliados na luta contra o Al-Shabaab, anunciaram no final da última semana a morte de um líder da organização terrorista que era procurados pelas autoridades norte-americanas, que inclusive ofereceram uma recompensa de US$ 10 milhões por informações que levassem à captura dele. As informações são do jornal The Guardian.

O anúncio da morte de Maalim Ayman foi feito no final da semana passada pelo ministro da Informação da Somália, Daud Aweis. Ele usou a rede social X, antigo Twitter, para divulgar a informação. A operação conjunta realizada pelas Forças Armadas da Somália e dos EUA ocorreu em 17 de dezembro.

“A morte do terrorista Maalim Ayman destaca a determinação do governo da Somália em punir os responsáveis ​​pelos atos impiedosos de violência contra o nosso povo. A nossa visão é estabelecer uma Somália pacífica, internamente coesa e em harmonia com os seus vizinhos e com o mundo”, disse o ministro em uma publicação.

Ainda de acordo com Aweis, o terrorista morto foi responsável pelo planejamento de vários ataques terroristas no país africano e em nações vizinhas.

No site do programa governamental norte-americano Rewards for Justice (Recompensas da Justiça, em tradução literal), o nome de Ayman ainda consta entre os alvos de recompensas, com o mesmo valor de US$ 10 milhões oferecido.

Soldados do exército da Somália em ação contra o Al-Shabaab, em agosto de 2012 (Foto: AMISOM/Flickr)

Segundo Washington, ele liderava a Jaysh Ayman, uma unidade da Al-Shabaab que conduziu ataques terroristas no Quênia e na Somália. O extremista teria liderado ações inclusive contra norte-americanos, sendo que uma delas, em 5 de janeiro de 2020, matou dois pilotos contratados e um especialista do Exército dos EUA que atuava como controlador de tráfego aéreo.

“Maalim Ayman foi responsável pela preparação do ataque de janeiro de 2020. Em Novembro de 2020, o Departamento de Estado designou Ayman como Terrorista Global Especialmente Designado”, diz o texto.

O anúncio da morte de Ayman ocorre em um momento favorável da luta contra o terrorismo na Somália. Na semana passada, o presidente Hassan Sheikh Mohamud disse que a intenção de seu governo é acabar com o Al-Shabaab até o final de 2024, quando o país perderá o apoio das forças da União Africana (UA).

“O fim do jogo será Dezembro de 2024, quando todas as forças ATMIS (as forças de manutenção da paz da UA) tiverem que deixar o país”, disse Mohamud, de acordo com a agência Reuters.

Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da UA. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques contra órgãos e oficiais do governo e entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Civis são frequentemente vitimados pelos atentados. Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano passado na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de civis atingidos pelas forças do governo, por milícias armadas aliadas às forças armadas somalis e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto do ano passado, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Em agosto de 2023, o chefe de Estado afirmou que o objetivo é derrotar completamente o grupo até o início do próximo ano. “Queremos eliminar o Al-Shabaab do país nos próximos cinco meses”, disse Mohamud durante reunião de governo. “Se não os eliminarmos completamente, talvez haja alguns bolsões com alguns Al-Shabaabs inofensivos que não poderão causar problemas.”

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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