‘Sudão experimentou a destruição quase completa da sua classe média urbana’, diz ONU

Arquitetos, médicos, professores, enfermeiros, engenheiros e estudantes perderam tudo no conflito, que expulsou 8,5 milhões de casa

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News

Mais de 8,5 milhões de sudaneses foram forçados a fugir das suas casas no Sudão desde que a guerra entre militares rivais eclodiu em abril passado, disse na terça-feira (9) o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).

Pelo menos 1,8 milhão deles fugiram através da fronteira para os vizinhos Sudão do Sul, Chade, República Centro-Africana, Egito e Etiópia, bem como Uganda. Milhares de pessoas chegam diariamente, disse a porta-voz da agência, Olga Sarrado, aos jornalistas na coletiva de imprensa regular em Genebra.

A guerra entre as Forças Armadas Sudanesas (SAF) e as Forças de Apoio Rápido (RSF) e as suas milícias afiliadas “destruiu a vida das pessoas, enchendo-as de medo e perda ”, disse ela

Protestos no Sudão ocorreram em Cartum e outras partes do país (Foto: Salah Naser/ONU News)
Classe média urbana dizimada

Mais de 13 mil pessoas foram mortas e milhares foram feridas, enquanto os ataques a civis e a violência sexual e de gênero relacionada ao conflito continuam inabaláveis.

“O Sudão experimentou a destruição quase completa da sua classe média urbana: arquitetos, médicos, professores, enfermeiros, engenheiros e estudantes perderam tudo”, disse Sarrado.

“As restrições de acesso, os riscos de segurança e os desafios logísticos estão dificultando a resposta humanitária. Sem rendimentos, e num contexto de interrupções nas entregas de ajuda e nas colheitas, as pessoas não conseguem obter alimentos, o que gera alertas sobre o agravamento da fome e da subnutrição em algumas partes do país”, acrescentou.

Países que acolhem refugiados

O Sudão do Sul recebeu o maior número de refugiados do Sudão, cerca de 640 mil pessoas, e em média 1,8 mil ainda chegam todos os dias, aumentando a pressão sobre infraestruturas sobrecarregadas e exacerbando as vastas necessidades humanitárias.

No Chade, o número ultrapassa os 560 mil e, embora o Acnur e os parceiros de ajuda tenham conseguido realocar a maioria dos refugiados para colonatos novos e ampliados, mais de 150 mil permanecem em zonas fronteiriças em condições sobrelotadas e insalubres, em grande parte devido a insuficiências de financiamento.

A Etiópia, que já acolhe uma das maiores populações de refugiados da África, também reportou chegadas contínuas de novos refugiados, ultrapassando recentemente os 50 mil.

‘Necessidades desesperadas’

A situação das mulheres e das crianças é particularmente alarmante. “Aqueles que atravessam as fronteiras, na sua maioria mulheres e crianças, chegam a zonas remotas com pouco ou nada e necessitam desesperadamente de alimentos, água, abrigo e cuidados médicos. Muitas famílias foram separadas e chegam em perigo”, disse Sarrado.

“Pais e crianças testemunharam ou vivenciaram violência terrível, tornando o apoio psicossocial uma prioridade”, disse ela.

Financiamento “criticamente baixo”

A porta-voz do Acnur alertou ainda que, apesar da magnitude da crise, “o financiamento continua criticamente baixo”.

Apenas 7% dos fundos necessários para o Plano Regional de Resposta aos Refugiados para o Sudão de 2024 foram cumpridos, enquanto o esforço de resposta no Sudão é financiado apenas em 6%.  

“São necessários compromissos firmes da comunidade internacional para apoiar o Sudão e os países que acolhem refugiados para garantir que aqueles que foram forçados a fugir pela guerra possam viver com dignidade”, apelou a Sarrado.

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