Sudão marca quatro meses de guerra com mortos ‘por recolher, identificar e enterrar’

ONU relata pelo menos quatro mil mortes, mas dados reais tendem a ser maiores devido à falta de acesso a certas áreas

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

As Nações Unidas estimam que pelo menos quatro mil pessoas foram mortas em quatro meses do conflito no Sudão. Entre as centenas de vítimas fatais estão civis, incluindo 28 trabalhadores humanitários, do setor da saúde, e 435 crianças.

O alto comissário para os direitos humanos, Volker Turk, aponta que os números das vítimas podem ser muito maiores. Falando a jornalistas, em Genebra, sua porta-voz, Elizabeth Throssell, apontou dificuldades de acesso a áreas mais afetadas. Ela enfatizou que há restos mortais de muitas pessoas que não foram recolhidos, identificados ou enterrados.

A nota considera a guerra no Sudão como “desastrosa e sem sentido, “causada pela “busca desenfreada pelo poder que resultou em milhares de mortes, destruição de casas de famílias, escolas, hospitais e outros serviços essenciais.” 

Além disso, questões como o deslocamento maciço, bem como violência sexual, estão entre atos que podem ser considerados crimes de guerra.

Violência proveniente de conflito armado atinge todo o Sudão (Foto: Salah Naser/ONU News)
Graves violações do direito internacional

O Escritório de Direitos Humanos da ONU diz haver motivos razoáveis ​​para crer que as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) e as Forças Armadas Sudanesas (SAF, na sigla em inglês) cometeram graves violações do direito internacional durante o atual conflito.

A nota destaca ainda uma série de delitos que “podem incluir violações da lei humanitária internacional e da lei de direitos humanos”, apelando que os autores sejam responsabilizados. 

O chefe de direitos humanos aponta que a situação caótica marcada por impunidade seja explorada por grupos armados oportunistas e de milícias, escalando ainda mais a violência.

O tempo está se esgotando para agricultores

Várias agências publicaram uma nota conjunta destacando a falta de comida enfrentada por milhões de pessoas no Sudão. 

O Programa Mundial de Alimentos (PMA) e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) alertam que o tempo está se esgotando para os agricultores plantarem safras que irão alimentar tanto a eles como aos vizinhos. 

Com a falta de suprimentos médicos, a situação sudanesa está “ficando fora de controle”, de acordo com um grupo de agências humanitárias.

O conflito registrou ataques contra civis com base em sua etnia em áreas como a capital sudanesa, Cartum, e em cidades próximas, além de El Obeid no Kordofan do Norte e partes da região de Darfur Ocidental.

Impacto arrasador na vida, na saúde e no bem-estar

As denúncias de agressões sexuais aumentaram 50%, de acordo com a diretora para os Estados Árabes do Fundo da ONU para a População (Unfpa), Laila Baker.

Milhões de residentes em Cartum não têm eletricidade, comunicações, água e estão expostos a saques. O impacto é arrasador na vida, na saúde e no bem-estar das pessoas, quando 67% dos hospitais de áreas mais afetadas não funcionam.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou 53 ataques a serviços de saúde, com 11 funcionários mortos e 38 feridos. Estes e outros desafios impediram o acesso de dezenas de milhares de pessoas aos cuidados de saúde. 

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