Tensão crescente no leste da RD Congo ameaça arrastar a África para um conflito regional

O avanço dos rebeldes do M23, apoiados por Ruanda, expõe fragilidades diplomáticas e pode reacender rivalidades históricas

O avanço dos rebeldes do M23 pelo leste da República Democrática do Congo (RDC), com apoio declarado de Ruanda, reacende o temor de que a instabilidade local se transforme em um conflito regional de grandes proporções. A escalada recente preocupa líderes da África Oriental e Austral, conforme os esforços diplomáticos falham em conter a violência. As informações são da agência Associated Press (AP).

Após a captura da cidade de Goma, o M23 mira agora Bukavu, capital da província de Kivu do Sul, e declarou a intenção de avançar até Kinshasa, a cerca de 1,6 mil quilômetros de distância. O grupo, que conta com o apoio de aproximadamente quatro mil soldados ruandeses, segundo especialistas da ONU (Organização das Nações Unidas), é visto pelo governo congolês como um exército terceirizado de Ruanda, país que tem interesse em explorar ilegalmente as vastas reservas minerais da região.

O presidente congolês, Félix Tshisekedi, recorreu a aliados regionais e até estrangeiros para tentar conter o avanço rebelde. Tropas de Burundi, Tanzânia e Uganda foram enviadas para apoiar as forças congolesas, mas as alianças instáveis da região complicam o cenário. Até mercenários romenos participam do conflito.

Felix Tshisekedi, presidente da RD Congo (Foto: reprodução/Twitter pessoal)

Ruanda, que se sentiu excluída das coalizões regionais formadas por Burundi e Uganda, decidiu “afirmar sua presença” no leste do Congo, segundo Mutiga. A relação tensa entre os protagonistas cria um ambiente propício para novos desdobramentos militares.

O presidente burundês, Evariste Ndayishimiye, acusou Ruanda de apoiar grupos rebeldes que operam contra seu governo e alertou que, “se Ruanda continuar a conquistar o território de outro país, chegará até Burundi”. Ele advertiu que o conflito poderá adquirir “dimensão regional” caso a escalada persista.

O histórico de instabilidade na região remonta a conflitos anteriores, como a guerra de 1998, quando forças de países como Zimbábue e Angola intervieram para apoiar o então presidente congolês Laurent Kabila contra rebeldes apoiados por Ruanda e Uganda.

O atual impasse diplomático é agravado pelo fracasso das negociações de paz e pela presença de uma força de paz da ONU, cuja eficácia tem sido questionada pelo governo congolês. Para Mutiga, com Ruanda e RD Congo “traçando linhas vermelhas”, a diplomacia enfrenta desafios cada vez maiores.

Embora o governo congolês tenha saudado os esforços coletivos para pôr fim ao conflito, rejeitou a justificativa de Ruanda para o ressurgimento do M23. “A crise atual é, acima de tudo, um ataque à soberania e segurança da RD Congo, não uma questão étnica”, declarou o governo em nota oficial.

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