Uganda nega apoio a grupo rebelde em meio a crise diplomática com a RD Congo

Após relatório da ONU, governo congolês convocou o encarregado de negócios ugandês no país para prestar esclarecimentos

A República Democrática do Congo convocou o encarregado de negócios de Uganda no país, Matata Twaha Magar, para prestar esclarecimentos sobre o suposto apoio ugandês ao grupo rebelde armado M23 (Movimento 23 de Março), que protagoniza uma violenta insurgência em território congolês. As informações são da rede Voice of America (VOA).

A crise diplomática entre as duas nações africanas é fruto de um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) revelado pela agência Reuters no início do mês. O documento afirma que “Uganda não impediu a presença de tropas do M23 e das Forças de Defesa de Ruanda (RDF) em seu território ou sua passagem por ele”, viabilizando assim as ações da facção na RD Congo.

Ainda de acordo com as Nações Unidas, há atualmente entre três mil e quatro mil soldados de Ruanda lutando ao lado dos rebeldes contra os militares da RD Congo, concluindo que o “controle e direção de fato do exército ruandês sobre as operações do M23 também torna Ruanda responsável pelas ações do M23.”

Felix Tshisekedi, presidente da RD Congo (Foto: reprodução/Twitter pessoal)

Magara, entretanto, negou que seu governo ofereça qualquer tipo de suporte ao M23 ou às tropas de Ruanda e afirmou que não teve acesso ao relatório. “A ONU deveria entregar primeiro o relatório aos países envolvidos para que eles possam responder a essas acusações”, disse ele.

“Nossa posição é clara: na comunidade da África Oriental, precisamos trabalhar juntos para eliminar todas as forças negativas que estão nos perturbando”, afirmou Magara, citando ainda que os dois países têm outro inimigo em comum, a ADF (Forças Democráticas Aliadas, da sigla em inglês), que se diz um braço do Estado Islâmico (EI).

O M23 surgiu como uma milícia formada por tutsis da RD Congo, e em fevereiro de 2023 a ONG Human Rights Watch (HRW) afirmou que a organização tem apoio também de Ruanda.

O grupo chegou a assinar um acordo de paz com o governo congolês e acabou incorporada ao exército nacional em 2009, mas se rebelou novamente em 2021 e retomou os confrontos com as Forças Armadas, a ponto de o Conselho de Segurança da ONU afirmar que a milícia é uma “séria ameaça à paz, segurança e estabilidade na região”.

O M23 é suspeito, inclusive, de envolvimento na queda de um helicóptero que matou oito integrantes da Monusco, a missão de paz da ONU na RD Congo, no dia 28 de março de 2022. A aeronave transportava seis boinas-azuis do Paquistão, um da Rússia e outro da Sérvia e desapareceu enquanto fazia uma missão de reconhecimento perto da fronteira com Uganda e Ruanda. 

O interesse dos governos estrangeiros na atuação da milícia estaria ligado à exploração de ricas jazidas de mineiras congolesas, segundo o mais recente relatório, uma acusação sempre refutada por Ruanda e Uganda. Ambos chegaram a invadir o território da RD Congo entre 1996 e 1998 sob o argumento de enfrentar facções armadas locais.

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