Um ano após morte de Prigozhin, Wagner Group está fragmentado e ainda mais violento

Organização, que já teve 50 mil mercenários em suas fileiras, hoje conta com cerca de cinco mil e concentra suas atividades na África

O avião que levava o empresário Evgnery Prigozhin caiu no dia 23 de agosto de 2023, matando todos os passageiros e tripulantes a bordo. A partir daquele momento, o Wagner Group, organização paramilitar privada que ele comandava, entrou em um processo de enfraquecimento e fragmentação. Hoje, um ano após morte do gestor, o efetivo da entidade está reduzido a um décimo do que foi no auge, com suas operações limitadas a África e Belarus. A violência empregada pelos mercenários nas operações, no entanto, não diminuiu. No continente africano, ao contrário, aumentou bastante.

O Wagner completa um ano sem seu criador e gestor em uma profunda crise. Em julho, o grupo sofreu um revés histórico no Mali, com dezenas de mercenários e também de soldados das Forças Armadas do país africano mortos por insurgentes. A organização paramilitar e as tropas malinesas teriam sofrido uma emboscada realizada por uma facção rebelde formada por tuaregues e membros do Jamaat Nasr al-Islam wal Muslimin (JNIM), ligado à Al-Qaeda.

Túmulo de Evgeny Prigozhin no cemitério de Porokhovskoye em São Petersburgo (Foto: WikiCommons)

Apesar das duras perdas no episódio, o Wagner Group não dá sinais de que pretende se retirar do Mali ou da África. E tem boas razões para isso. Recente estudo assinado por cinco pesquisadores, intitulado The Blood Gold Report (O Relatório do Ouro de Sangue, em tradução literal), calcula que a organização paramilitar vem sendo crucial para financiar a máquina de guerra da Rússia na Ucrânia.

O relatório afirma que, desde o início do conflito, o Wagner faturou US$ 2,5 bilhões com ouro na África, graças a acordos de segurança firmados com os governos de MaliSudão e República Centro-Africana. O grupo teria se tornado o principal comprador do ouro sudanês, bem como “um grande contrabandista de ouro processado”, riqueza que costuma deixar o país em voos militares russos.

O Mali, por sua vez, testemunhou nos últimos 12 meses um aumento de 81% na violência envolvendo os mercenários, com as fatalidades subindo 65%. Os números foram divulgados pelo Projeto de Dados de Localização e Eventos de Conflitos Armados (ACLED, na sigla em inglês), uma ONG norte-americana.

“Desde que foi enviado ao Mali em dezembro de 2021, vimos o Wagner Group participar de 34% das operações das FAMa (Forças Armadas do Mali). Desde então, 60% dos eventos violentos envolvendo forças Wagner foram direcionados a civis”, diz o estudo. “As operações atingiram o pico em 2023, quando mais de mil mercenários russos estavam estacionados no Mali.”

Embora mantenha presença relevante na África, o efetivo do grupo hoje é reduzido. Balanço divulgado pelo Ministério da Defesa do Reino Unido nesta sexta-feira (23) aponta que o Wagner tem hoje apenas cinco mil homens a seu serviço, sendo que no passado já teve 50 mil. Além do continente africano, estão estacionados também em Belarus, outro foco de resistência da organização.

O governo britânico lembra que não foi apenas Prigozhin que morreu na queda do avião, mas também o homem que deu nome à organização, Dmitriy “Wagner” Utkin. “Desde então, o Wagner Group tem ficado cada vez mais fragmentado, com muitas figuras veteranas tendo deixado o grupo”, diz o Ministério da Defesa no material compartilhado pela rede social X, antigo Twitter.

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