A barreira do idioma separou Camarões, país africano de 25 milhões de habitantes na porção ocidental do continente. Por lá, a violência divide falantes do francês e do inglês em uma disputa que se intensificou há pelo menos quatro anos – sem qualquer resolução em vista.
Nessa guerra civil, as famílias são as principais vítimas, relatam jornalistas da alemã Deutsche Welle. Com a maioria das escolas fechadas, as poucas crianças que ainda vão para a escola só usam uniformes durante as aulas.
O maior receio é que grupos separatistas as sequestrem em troca de resgate – uma prática que já se “popularizou” em Bamenda, uma das maiores cidades do país. Os ataques a escolas também são comuns nas poucas unidades de ensino que restaram.
A falta de acesso à educação vem combinada com a falta de segurança. Em postos de controle, policiais consomem bebidas alcoólicas e exigem subornos. O exercício é naturalizado é feito à luz do dia.
Mesmo as gangues, geralmente armadas com fuzis de caça e facões, estabelecem pedágios obrigatórios nas estradas do interior de Camarões. Quem não paga pode ser morto.
Para a população, guerrilheiros separatistas e policiais gozam ambos de má reputação. “Os soldados não são boa gente”, disse um morador local. “Eles estupram, queimam casas, cometem tantos crimes…”.
Rebeldes quanto soldados são acusados de lucrar com o conflito. Sem liderança, os separatistas minam qualquer tentativa de resolução do conflito desde a prisão de lideranças anglófonas, no ano passado.
Parte dos anglófonos pleiteia a criação de um novo país, a Ambazônia, na porção oeste que margeia a fronteira com a Nigéria.
País desgovernado
Sob o comando de Paul Biya há quase 40 anos, Camarões parece estar à deriva, dizem analistas. A violência já é a maior registrada desde 2016, quando advogados de Bamenda protestaram contra o abandono da maioria de língua inglesa nas regiões ocidentais do país.
Ao conquistar a independência em 1960, Camarões fundiu um antigo território de língua francesa e outro de língua inglesa em um só. Até hoje, o país funciona com duas línguas oficiais, assim como dois sistemas de ensino e dois sistemas jurídicos.
A minoria anglófona, no entanto, reclama da negligência e opressão do governo. Biya, por sua vez, não visitou a região desde o início dos conflitos.