Ataques no Canadá mostram que antissemitismo cresceu nas Américas, inclusive no Brasil

Ataques contra judeus aumentaram em todo o mundo e colocaram a comunidade em alerta também na América do Sul

Desde o início do conflito em curso no Oriente Médio, desencadeado pelo ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro, casos de antissemitismo têm aumentado em todo o mundo. Esta é a realidade também na América do Sul, onde Brasil e Argentina registraram episódios de violência contra judeus, e na América do Norte, sendo o Canada o palco mais recente.

Na quinta-feira (9), as autoridades canadenses afirmaram que investigam um caso de disparos com armas de fogo contra duas escolas judaicas de Montreal. Os estabelecimentos relataram ter amanhecido com buracos de bala em suas portas, segundo a rede CBC. Os tiros foram provavelmente dados durante a noite, quando os locais estavam vazios.

Em outro episódio no Canadá de violência atrelada à guerra, simpatizantes dos dois lados que se opõem no conflito, israelenses e palestinos, entraram em confronto durante uma manifestação na Universidade de Concordia, com registros de prisões e feridos.

A situação levou a uma manifestação do primeiro-ministro Justin Trudeau. “Entendo que as pessoas estejam profundamente perturbadas com o que vem acontecendo lá”, disse ele, segundo a agência Reuters. “Violência, ódio, antissemitismo, islamofobia e cenas como as que vimos na Universidade de Concordia ou tiros disparados contra escolas judaicas durante a noite… tudo isso é inaceitável.”

Fachada da AMIA, em Buenos Aires, que carrega no muro os nomes das vítimas de um violento atentado contra os judeus em 1994 (Foto: Andy Sternberg/Flickr)
Antissemitismo no mundo

Logo nos primeiros dias de conflito, começaram a ser registrados episódios de violência contra judeus em diversos países. Houve pichações antissemitas em Londres, um indivíduo foi preso em Paris suspeito de preparar um ataque a faca contra judeus e uma morte suspeita aconteceu no Egito.

A violência ganhou também a internet. No Telegram, plataforma usada inclusive por grupos terroristas islâmicos para divulgação de informações sobre atentados, as ações antissemitas tiveram um aumento de mais de quase 500%, segundo a Liga Antidifamação, mais antigo grupo judeu de direitos civis dos EUA.

Aos poucos, os episódios de intolerância começaram a se acumular também nas Américas, abrindo as portas para o que ocorreu no Canadá nesta semana.

Em Salt Lake City, nos EUA, uma ameaça de bomba levou à evacuação de uma sinagoga, com outros episódios semelhantes em estabelecimentos judeus da cidade. Em St. Louis, também uma cidade norte-americana, um caminhão amanheceu com a suástica na lataria, enquanto um manifestante em Nova York tinha a marca nazista em seu braço durante marcha pró-Palestina na Times Square.

Violência na América do Sul

Os judeus da América do Sul não estão livre da violência. Na Argentina, de acordo com a Reuters, lideranças judaicas passaram a aconselhar a comunidade a tomar cuidado e aumentar a vigilância. Inclusive, uma escola recomendou que seus alunos deixassem de usar uniforme, a fim de não serem facilmente identificados.

O país, que abriga a maior comunidade judaica na América Latina e a sétima maior do mundo fora de Israel, tem um histórico de violência contra judeus que explica a cautela.

Em 1992, um ataque a bomba atingiu a a embaixada israelense em Buenos Aires, e dois anos depois uma ação semelhante foi realizada contra o centro comunitário judaico AMIA (Associação Mutual Israelita Argentina). Os ataques mataram mais de cem civis.

Embora não tenham sido relatados casos de violência física, os judeus estão em alerta também no Brasil, onde líderes da comunidade dizem ter registrado um aumento nos ataques online.

“Estamos muito preocupados. Aumentamos a segurança de nossas instituições”, disse à Reuters Ricardo Berkiensztat, presidente executivo da Federação Judaica do Estado de São Paulo, relatando manifestações inclusive de cunho nazista, como “Hitler não terminou, ele deveria ter terminado de matar judeus.”

A Polícia Federal (PF) ainda realizou uma operação que levou à prisão de dois indivíduos acusados de ligação com o grupo radical libanês Hezbollah. Eles estariam envolvidos com o planejamento de ataques contra judeus e estabelecimentos judaicos no Brasil.

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